terça-feira, 29 de abril de 2008

Um biscoito para apaziguar uma mente inquieta




Vejam bem, quem é que consegue estudar em paz com uma batedeira dessas brilhando de nova na cozinha? A batedeira com a qual você sonhou todas as vezes que sua versão portátil de 9,99 ameaçou falhar? Aquela mesmo que está ali, em cima da bancada, implorando para ser lambuzada de manteiga, açúcar e chocolate?

Eu bem que tentei, mas a loucura falou mais alto e tive que largar tudo o que estava fazendo para dar um test-drive à minha bebezinha. A receita escolhida foi a dos biscoitos de triplo chocolate, precisamente porque tinha todos os ingredientes em casa e era bastante fácil de fazer. E, bem, porque eles são deliciosos mesmo.

Me senti o máximo manuseando a batedeira, que deve ser o ítem mais caro e muderno da minha cozinha pré-histórica. Devo dizer que, após esse rápido teste, ela já correspondeu à todas as minhas expectativas. A massa ficou pronta em segundos, e o aproveitamento foi maior do que misturando tudo à mão. Mal posso esperar para fazer algo realmente digno desta batedeira, como bater um chantilly ou claras em neve, deve ser um luxo!

Sonho de consumo (realizado)






Olha só quem apareceu lá em casa ontem à noite, de surpresa ainda por cima... Não é linda? Meus dias de bater bolo com a batedeira portátil de 9,99 acabaram!!

domingo, 27 de abril de 2008

Almoço Jamie Oliver


O almoço de sábado foi em homenagem à Jamie Oliver não em receita, mas em espírito. Estou adorando o livro da série Jamie at Home, e confesso que sua atitude, baseada cada vez mais na simplicidade, ingredientes sazonais e espontaneidade, anda me influenciando bastante estes dias. Então, quando já passavam das onze e começamos a pensar na velha questão: o que comeremos no almoço?, decidimos pegar a scooter e ver o que tinha de bom no mercado e na feira. Compramos dois rib-eye steaks que estavam pedindo para serem grelhados na churrasqueira, um saco de batatas-dedinho e algumas vagens. Luiz encarregou-se dos steaks, que foram temperados com sal, pimenta moída na hora e alecrim e depois grelhados, e eu fiz os acompanhamentos: batatas assadas no forno e vagens douradas na manteiga com chalotas levemente caramelizadas. Happy days!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Comendo em Paris


O filme não era nada de maravilhoso - Ingrid Bergman presa num triângulo amoroso com um francês galinha (quase um pleonasmo, pelo menos no cinema) e um moço mais jovem (vivido por Anthony Perkins, que depois de Psicose sempre terá um ar disturbing pra mim). Mas, como o filme se passava em Paris, claro que comida tinha um papel importantíssimo. Sim, porque mesmo os corações despedaçados têm um apetite... Então entre uma discussão e outra, "Vamos sair para jantar? Sim, aonde? Que tal o Escargot? Será que conseguimos uma mesa sem reserva?". Impressionou-me o tempo gasto com detalhes aparentemente dispensáveis deste tipo, e fiquei me perguntando se os nomes dos restaurantes não seriam mesmo verídicos. É capaz de serem. E eles sentam no restaurante, olham cardápio, pedem caviar e blinis, chamam o sommelier e assim por diante. Quando o Tony Perkins finalmente seduz a Ingrid Bergman, não tem cena de sexo, mas tem ele fazendo um sanduíche depois e perguntando "cadê a manteiga"...nada mais francês.

Tortinhas de queijo e tomate


Quando eu vi essa torta de tomates e berinjelas fiquei me coçando para fazer, só que eu não tinha berinjelas em casa e já estava tarde para ir comprar e ainda preparar o recheio para o jantar. Resolvi simplificar e lembrei-me que já tinha feito uma versão da torta rápida de tomates da Fer, então juntei a massa da primeira receita com o recheio da segunda, coloquei nas minhas forminhas de quiche novinhas e o resultado foram essas tortinhas de queijo e tomate deliciosas.

Para a massa eu usei a receita de pâte brisée do livro The Art of Simple Food da Alice Waters. É a base para quiches e tortas salgadas de todos os tipos, um verdeiro coringa. Ela usa:

- 1/2 xícara de água gelada
- 2 xícaras de farinha de trigo branca
- 12 colheres de sopa (180g, um tablete e meio) de manteiga fria cortada em cubinhos
- uma pitada de sal

Coloque a farinha numa vasilha grande e misture os cubinhos de manteiga com as mãos, quebrando-os na farinha até que estejam mais ou menos incorporados (o ideal é que alguns pedacinhos de manteiga fiquem inteiros e do tamanho de ervilhas). O importante é trabalhar rápido para a manteiga não começar a derreter com o calor das mãos (você pode também usar uma batedeira ou processador). Depois incorpore a água aos poucos, mexendo com um garfo até começar a formar uma massa. Acrescente mais água se for preciso. Depois forme a massa em uma bola e divida na quantidade que quiser - esta receita rende de quatro a cinco tortinhas médias, ou duas grandes. Enrole as bolas de massa em papel filme e deixe na geladeira por no mínimo uma hora. O excesso de massa pode ser congelado.

Para rolar a massa, tire-a da geladeira e deixe-a chegar à temperatura ambiente, pois assim ela fica mais maleável. Enfarinhe bem uma superfície limpa e role com o rolo até ficar da grossura de sua preferência. Coloque a massa numa forma untada e pressione bem com os dedos, especialmente nos cantinhos. Para esta receita é preciso pré-cozinhar a massa antes de colocar o recheio, o famoso blind baking. Faça furinhos no fundo da massa com um garfo, para evitar que ela inche demais e encolha ao assar. Cubra com um papel alumínio e coloque algum peso (pode ser grãos secos de feijão, arroz, qualquer coisa pesadinha), leve ao forno médio/alto por doze minutos. Tire o peso e o papel alumínio e asse por mais 10-12 minutos, até a massa começar a dourar. Fique de olho para garantir que ela não vai inchar e encolher demais, se acontecer o jeito é forçar a massa de volta com o fundo de uma colher. Um pouco de coerção não fará mal a ninguém.

Para o recheio, eu improvisei com o que tinha à disposição. Peguei dois tomates italianos maduríssimos e cortei-os em oito pedaços cada, retirando as sementes. É importante temperar e preparar os tomates alguns minutos antes para que eles percam um pouco do líquido e não terminem amolecendo a massa. Eu temperei com bastante sal, pimenta, azeite de oliva e orégano seco. Depois coloquei uma colher de pesto forrando o fundo das tortinhas, cortei umas chalotas em fatias beeeem fininhas e coloquei sobre o pesto. Arranjei os tomates nas forminhas e cobri com queijos - gorgonzola e mussarela. Salpiquei um pouco mais de orégano e levei ao forno por 25-30 minutos, até a massa ficar dourada e o queijo bem derretido. Servi com uma salada verde.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Que venham os aspargos

Outro sinal definitivo da primavera finalmente dá as caras por aqui: os aspargos, verdinhos, lindos, tenros, vindos de alguma fazenda do Quebec direto para o mercado.

Para celebrar o reaparecimento dos aspargos eu os cozinhei do jeito que mais gosto: assados no forno com azeite, sal e pimenta. Depois de uns quinze minutos no forno, dou uma raladinha de parmesão por cima para derreter. Não conheço outro método que renda aspargos tão deliciosos.


O resto do almoço veio da churrasqueira, que finalmente renasceu das cinzas após o longo inverno: filé do porquinho feliz, umas batatinhas e uma cabeça de radicchio, que depois de grelhado fica menos amargo e muito gostoso servido com uma vinagrete de balsâmico. Tudo muito simples e muito delicioso.

domingo, 20 de abril de 2008

Está chegando...



Ainda há neve em alguns pontos nas ruas, mas aos poucos a primavera dá sinais de que está vindo...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Em casa com o chef

Tenho reparado que a mais nova moda dos programas culinários na TV é de mostrar o chef em casa, só que de um jeito cada vez mais íntimo (ou invasivo, em alguns casos). Deve ter havido alguma pesquisa de opinião recente mostrando que o povo queria mesmo era ver seu celebrity-chef favorito no conforto do seu lar, vendo como suas receitas são mesmo fáceis e aproveitando para dar uma olhadinha na sua intimidade, mesmo que seja falsa. Quase todo programa agora termina com uma festinha ou um jantar romântico, e eu fico cá só pensando tá, tudo bem, mas quem são essas pessoas? Será que o marido da Ina Garten ou da Ana Olson (celebrity-chef canadense) ensaiam antes o que vão dizer? Será que os amigos da Nigella ou da Giada são mesmo amigos, ou são atores contratados? E se forem mesmo amigos, como deve ser engraçado ser convidado para um jantarzinho para seis e mais uma equipe de televisão! Eu é que não ia querer embarcar numa dessas... Tudo bem que este tipo de programa deixa o espectador mais à vontade para tentar as receitas (bem, se fulano fez isso em casa, eu também posso...), passa uma idéia mais natural e espontânea e ainda acata os desejos voyerísticos de todos nós, mas daí a dedicar cinco preciosos minutos de televisão ao maridão chegando em casa com flores (eles sempre trazem flores, estes maridos cenográficos), trocando de roupa e sentando para a janta, com direito a provar e comentar a comida, acho exagero. Temos que lembrar que, em televisão, tudo é falso, então eu tendo a preferir os programas que pelo menos tentam minimizar a falsidade em nome da simplicidade e clareza das receitas (até hoje não vi as pimpolhas do Jamie Oliver correndo pelo jardim..).

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Endívias caramelizadas


Eis um prato interessante e que dá uma nova vida às delicadas endívias fora daquela velha conhecida salada. Numa frigideira grande, esquente uma colher de açúcar até começar a derreter, depois junte rapidamente uma colher de vinagre (usei de vinho tinto), uma colher de azeite de oliva, uma colher de manteiga e umas folhas de alecrim picadinhas.

Corte o fundo de duas a três cabeças de endívias para separar as folhas, e arranje-as na frigideira sobre o líquido. Tampe com papel alumínio e deixe cozinhar em fogo baixo até que as folhas estejam bem macias e escuras, entre 30 a 40 minutos. Retire a tampa, acrescente uma a duas colheres de vinho tinto, tempere com sal e pimenta a gosto e deixe o líquido reduzir até virar um xarope bem grosso.

O gosto das endívias caramelizadas é forte e adocicado, similar ao de cebolas caramelizadas só que mais suave e, na minha opinião, delicioso. Essa preparação pode ser utilizada de diversas maneiras. Eu coloquei as endívias sobre fatias de pão levemente tostadas, que poderiam ser servidas como finger food numa festa. Para uma ocasião mais formal, você pode fazer quadradinhos com massa folhada ou massa phyllo, assá-los no forno, colocar as endívias por cima e servir com algumas folhas verdes, faz uma entrada deveras elegante.

Aos novos amigos

Uma das coisas mais gratificantes de se manter um blog de comida são os novos amigos que a gente faz através desse interesse comum. Eu e a Fabrícia nos conhecemos há alguns meses através dos nossos blogs, descobrimos que moramos na mesma cidade e, esta semana, finalmente nos encontramos ao vivo para um cafezinho. Só que ela, fofa como é, me trouxe uma sacola com vários presentinhos maravilhosos: temperos, azeite e olivas da Tunísia, coisinhas caseiras e doces artesanais, uma lata de atum conservado em azeite de oliva (o Gaston ficou de olho no atum e eu na latinha linda), e até coisinhas do Brasil. Tudo tão arrumadinho que dá até pena de usar, um luxo.



Obrigada, Fabrícia, pelos presentes e pelo carinho!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Picanha de sol

Tudo começou com um post no Chucrute com Salsicha que remetia a um outro post sobre carne-de-sol clandestina que lançou uma paradoxal reação em cadeia em nossas mentes e estômagos: ao mesmo tempo em que lembramos, com certo nojo e preocupação, de todas as vezes em que comemos carne de sol de origem duvidosa (nota: no Nordeste come-se muita carne de sol), fomos tomados por uma saudade e uma fome irresistíveis (no Nordeste come-se muita carne de sol).

Felizmente a notícia ruim vinha acompanhada de uma boa: é extremamente fácil fazer carne de sol em casa, uma vez que o processo é artesanal em sua origem. A receita era de picanha de sol e vinha do programa de Ana Maria Braga, acompanhada por um vídeo explicando o passo a passo. Ou seja, fácil demais para não darmos ao menos uma tentativa. Luiz, que não cozinha no dia-a-dia mas adora um desafio de proporções épicas (foi ele quem conseguiu a façanha de cozinhar uma feijoada para doze pessoas num quarto e sala em pleno inverno canadense), encarregou-se do projeto que só se concretizou mesmo no último sábado.

O passo a passo do vídeo é altamente detalhado e não deixa dúvidas (se estiver sem paciência para Ana Maria Braga, tem a receita em versão escrita no site do programa). Trata-se, basicamente, de um processo de desidratação da picanha no sal grosso (por 24h), e posterior re-hidratação no leite (mais 24h), de maneira que ela fica levemente curada por fora e ainda crua por dentro. Eu só não fiquei muito convencida com as técnicas de reaproveitamento do sal e do leite, achei pouco higiênico e optei por jogar tudo fora mesmo. Também usamos uma peça menor de carne que, por sua vez, precisou de menos sal e menos leite. No mais, fizemos tudo como no vídeo.


Esperamos o sábado para fazer a carne na esperança de usar a churrasqueira, mas o tempo mais uma vez não colaborou e terminamos optando por assá-la no forno mesmo. O resultado foi extremamente satisfatório: a carne ficou macia e o gosto bastante similar às nossas referências de carne de sol, diferente, portanto, de uma picanha assada tradicional. Luiz estava no embalo e fez até feijão de corda e farofa para completar o prato. Já eu contribui com um brócolis ao alho e óleo e uma cebola roxa assada no forno embalada em papel alumínio. Segundo ele, só faltou mesmo a manteiga de garrafa...

Le Pégase

Estávamos comentando outro dia que essa história de cozinhar sempre em casa faz você pensar duas vezes antes de escolher um lugar para comer fora. Estamos muito mais exigentes em matéria de qualidade/valor, e termina que só vamos a restaurantes muito bons, mas só em ocasiões especiais porque ninguém ganhou a 6-49 (a mega-sena daqui). Então nem pensamos duas vezes antes de escolher o Le Pégase quando uma amiga querida pediu nossa indicação para comemorar seu aniversário.

O Le Pégase é um restaurante francês fino, mas sem ser "metido à besta", como dizia meu pai. Lá o esquema é "leve seu próprio vinho", o que alivia em muito a conta, especialmente num restaurante francês onde comer sem vinho é pecado mortal. Foi o primeiro restaurante francês onde fomos, e a primeira vez que experimentamos um jantar "gourmand", com sopa, entrada, prato principal, sobremesa e café. Viciamos e queremos voltar sempre que uma ocasião se apresenta.







Dessa vez criei coragem e tirei fotos dos pratos, que estavam maravilhosos. Comemos uma salada de pato confit em massa phyllo, carneiro com molho de mostarda, coelho recheado com cogumelos, salmão com molho virgem e pato com um molho cítrico. Estava tudo lindo e delicioso. Na sobremesa pedi uma coisa chamada mourir de chocolat, ou morrer de chocolate, cujo nome me pareceu altamente tentador, e era uma mousse de chocolate tão intensa, mas tão intensa que eu pensei mesmo que poderia morrer se terminasse o prato (mas morreria feliz...).

O Le Pégase fica numa casinha escondida fora da badalação do centro da cidade, é tão pequeno que mesmo em dia de semana é preciso fazer reserva, e eu adoro essa atmosfera de intimidade que ele proporciona. Comemos por horas, tanto que quando vimos todas as outras mesas já tinham terminado, e fomos embora felizes e contentes junto com o staff que, como de costume, ficou intrigado com as nossas conversas em português.

sábado, 12 de abril de 2008

Bolo de sarraceno


Estava já meio desesperada sem saber o que fazer com um pacote de farinha de sarraceno (buckwheat) que eu comprei para fazer os famosos crepes salgados franceses, ou galettes de sarrasin, quando me deparei com esta receita do Traveler's Lunchbox que me pareceu muito interessante.

Eu comprei essa farinha depois de descobrir que na França e aqui no Quebec os crepes salgados não são feitos com farinha de trigo (como são os crepes doces), mas sim com o sarraceno, que tem por si só um sabor todo especial. Bem que tentei mais de uma vez fazer os crepes, mas não consegui. Da primeira vez não consegui a textura certa, porque o sarraceno é meio pesado e tende a decantar no fundo da vasilha, daí a necessidade de ficar mexendo a massa constantemente. Da segunda vez consegui fazer as panquequinhas, mas me embananei toda na hora de pôr os recheios e mantê-los quentes, foi um fiasco.

Eu geralmente sou grande adepta das adaptações, mas no caso dos crepes acredito que é realmente necessário ter o aparato próprio: aquela chapa que abre bem a massa sem deixar queimar, aquela espátula que espalha tudo numa camada uniforme. E, mais importante, acho que só fica gostoso mesmo comendo na hora, mas se você faz crepes pequeninos (do tamanho de uma frigideira), é praticamente impossível fazer e comer, fazer e comer sem se estabanar toda e perder a graça da refeição. Quer saber de uma coisa? Não vale a pena fazer crepes em casa (na minha opinião, claro). Sou mais dar um pulinho na crêperie mais próxima e observar o trabalho dos cozinheiros do conforto da minha mesa.

Mas estava com toda essa farinha dando sopa em casa. Adorei a idéia do bolo, pois acho o sabor do sarraceno mesmo interessante, e com a adição de amêndoas a massa ficou perfumadíssima. O bolo saiu macio e levíssimo, para minha surpresa, que esperava uma coisa mais densa. Como diz Melissa, a autora do Traveler's Lunchbox, é um bolo sem muitos atrativos, mas a companhia ideal para aquela xícara de café de manhã ou no meio da tarde. A receita está no site dela.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Santo desastre, Batman!

Fiz um panelão de caldo de frango, como faço quase toda semana, e guardei em saquinhos Ziplocs para congelar, como também sempre faço. Lá pras tantas abro o congelador e vejo que um dos sacos FUROU e o rico caldinho que passara a tarde inteira na panela espalhou-se por todo o freezer, criando uma camada de gelo amarelo-pálido por entre meus congelados. P****! Pelo menos foi só um, e os outros dois saquinhos se salvaram do desastre. Agora como vou limpar isso, se a geladeira daqui é de antes dos tempos do defrost e auto-limpantes, é a pergunta de um milhão de dólares.

Uma Pizza Party em imagens

Menu da noite

Ingredientes

Abrindo a massa

Pizzaiola em ação

Margherita com tomate assado e alho

Gorgonzola e prosciutto

Pesto, queijo de cabra e nozes

Amigos satisfeitos

Você conhece a pessoa que cultiva o que você come?

Eu agora conheço. Catherine e Nicolas são um casal jovem, bem mais jovem do que eu havia imaginado. Ano passado eles compraram um terreno na cidade de Frelighsburg, a 94 km de Montreal, realizando o sonho da vida deles que era ter a própria fazenda. Este será o primeiro ano desta fazenda no programa CSA (community supported agriculture), que distribuirá semanalmente as cestas orgânicas para alguns clientes felizardos e orgulhosos, eu entre eles.

Ontem foi o primeiro encontro dos clientes (ou parceiros, como eles preferem dizer) com os "fazendeiros de família". A idéia é a mesma do médico de família, ou seja, de conferir algo tão importante e fundamental (sua saúde, sua alimentação) a alguém que você conhece e em quem você confia. Para mim faz perfeito sentido. Além de ter acesso a legumes e frutas frescos e orgânicos toda semana, além de contribuir para a agricultura local, o esquema das CSA permite que você participe ativamente do processo - honesto, curto e sem intermediários, o oposto do esquema industrial - que vai da terra à sua mesa.

Ontem a vantagem disso tudo ficou absolutamente clara para mim ao ver os olhos de Catherine brilhar quando ela contou que os tomateiros já estavam dando pequenos tomatinhos, apesar do inverno rigoroso deste ano (bom sinal). Nessa hora, não só eu soube o nome da pessoa que cultiva meus alimentos, como eu tive a certeza da sua paixão e envolvimento neste processo. As cestas da minha fazenda de família só começarão a chegar no verão, mas eu mal posso esperar.

No Quebec, o organismo que representa as fazendas de família é o Equiterre (clique no link para saber mais sobre a cesta orgânica). Obrigada, Fer, por me educar sobre as CSA!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Tortinhas de chocolate


Essas deliciosas tortinhas de chocolate foram o final feliz de uma história que não começou muito bem. Há algumas semanas, eu me preparei para a fazer a torta de lemon curd do livro The Art of Simple Food, da Alice Waters. O lemon curd ficou ótimo, mas quando já estava fazendo a massa doce (pâte sucrée), me dei conta de que a receita mandava refrigerar a massa de véspera na geladeira. Logo eu, que sempre leio as receitas com antecedência para não cometer esse tipo de erro, fui pega de surpresa. Tsc, tsc... Na ocasião, resolvi congelar a massa e fiz a torta de lemon curd com massa de biscoito mesmo (aquela do cheesecake), que, por sinal, ficou ótima.

Semana passada tivemos uma pizza party aqui em casa e eu aproveitei para descongelar a pâte sucrée. Peguei outra receita do mesmo livro, tortinhas individuais de chocolate. Descongelei a massa e tive então outro percalço: como ela é mais farelenta do que uma massa de tortas tradicional, não houve jeito de abrir com o rolo como mandava a receita. Descobri que o único jeito de trabalhar essa massa era simplesmente pressionando-a com os dedos no fundo das forminhas, o que funcionou perfeitamente para minha alegria. A pâte sucrée se parece mais com uma massa de biscoito, e pode inclusive ser assada como um biscoitinho simples que derrete na boca.

Tortinhas de chocolate
(Receita adaptada do livro The Art of Simple Food, de Alice Waters)

Para fazer a massa doce (pâte sucrée):

- 8 colheres de sopa (um stick) de manteiga sem sal
- 1/3 de xícara de açúcar
- 1/4 de colher de chá de sal
- 1/4 de colher de chá de extrato de baunilha
- 1 gema
- 1 e 1/4 xícaras de farinha de trigo

Bata a manteiga (que deve estar em temperatura ambiente) com o açúcar até ficar cremosa. Depois misture o sal, baunilha e a gema. Por fim, adicione a farinha e misture bem até formar uma massa sem pontos secos. Faça um disco com a massa, enrole em papel filme e deixe resfriar em geladeira por no mínimo quatro horas, ou de um dia para outro (você pode congelar a massa neste estado e usar quando quiser).

Para fazer as tortinhas de chocolate, deixe a massa voltar à temperatura ambiente até ficar maleável. Pegue um pouquinho da massa e pressione com os dedos no fundo de forminhas pequenas, formando uma camada fina. Nas forminhas que usei a massa rendeu 22 tortinhas, mas isso vai depender do tamanho da forma, naturalmente. Faça furinhos com um garfo no fundo das forminhas forradas com a massa e leve ao congelador por 15 minutos - este processo é extremamente importante, pois evita que a massa inche ao ser assada (vale lembrar que o recheio de chocolate não vai ao forno). Depois asse em fogo médio por mais 15 minutos, ou até as tortinhas começarem a dourar. Deixe esfriar e desenforme.

Para fazer o recheio:
- 220g de chocolate meio amargo
- 1 xícara de creme de leite fresco

O recheio nada mais é do que uma ganache simples: derreta o chocolate com o creme de leite fresco e coloque essa mistura, ainda quente, nas tortinhas já assadas e desenformadas. Leve à geladeira para o recheio endurecer, e retire meia-hora antes de servir para ele amolecer novamente.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Omelete sem segredos


Falando em Julia Child, uma das melhores coisas que aprendi com ela foi a fazer omelete do jeito francês. Depois de testar com sucesso sua técnica, descobri que este é o meu jeito preferido de comer ovos. Gosto de quiches, frittatas e omeletes de forno, mas prefiro os ovos mais macios, tenros, quase não-cozidos, e de preferência sem muito recheio.

Esta técnica de fazer omeletes não poderia ser mais simples e eu garanto que dá certo. No entanto, como seria complicado de descrevê-la em palavras, deixo a própria JC mostrar, ao vivo e a cores, como é que se faz uma omelete perfeita. Aliás, acho que foi vendo este episódio que eu me apaixonei pelo jeitão desengonçado e ao mesmo tempo encantador desta mulher.



Lembrando que este é apenas um trecho do programa "The French Chef", estrelado por Julia Child entre 1963 e 1973, e disponível atualmente em DVD.

domingo, 6 de abril de 2008

Julia dá um alô

Do alto do seu apartamento parisiense no número 81 Rue de L'Université, ou simplesmente "Roo de Loo", como ela e Paul chamavam, palco de jantares inimagináveis. Quando vejo essa foto quase posso ouvir sua voz dizendo que o importante na vida é ter senso de humor e aproveitar cada minuto com prazer.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Ainda não é primavera

Lendo outros blogs de comida pelo mundo afora, parece que todo mundo está feliz e contente celebrando a chegada da primavera, menos eu. Por aqui ainda não apareceram os tomares maravilhosos, milhos lindos e aspargos tenros que anunciam a tão aguardada estação. As flores e grama ainda não deram as caras nos jardins. Os fazendeiros ainda não montaram suas feirinhas de rua. E nós ainda não podemos aproveitar a churrasqueira e replantar as ervas. Mas estamos quase lá.

Montreal tem uma particularidade - antes de ficar linda para a primavera, ela precisa ficar feia de dar dó. Diria que é como aquele período meio embaraçoso entre a infância e a mocidade. São umas duas ou três semanas em que se vê a neve já marrom acumulada nas entradas dos prédios e ela não combina mais com o sol que faz de dia, e todo mundo sabe que quando aquela neve finalmente derreter, todo o lixo acumulado nos últimos cinco meses virá à tona, tingindo a cidade de lama.

É feio, mas já já essa fase passa e a cidade volta a ser linda novamente. E eu mal posso esperar pela chegada (de verdade) da primavera...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Cooking by numbers

Eu confesso: cozinha indiana é uma coisa que me intimida. Adoro os sabores mas tenho medo, muito medo de tentar em casa. São tantos os temperos e ingredientes que não conheço e com os quais não me sinto à vontade para experimentar, sinto-me humilde diante deles. Leio o blog da Agdá e fico maravilhada, com água na boca.

Ainda tem o fato de que Montreal tem tanta variedade de restaurantes indianos maravilhosos - e baratos - que eu nem me atrevo a tentar reproduzir os pratos em casa. Mas arriscar é preciso, e eu arrumei uma receita basicona, ótima para dizer que eu consigo fazer pelo uma coisinha indiana: frango ao curry.

Gostei dessa receita porque ela é rápida, simples e tem cem por cento de eficiência garantida. No guess work involved, eu vou seguindo a receita à risca que nem aquele passa-tempo de pintar os números. No final, voilá, tenho um prato pronto e delicioso, diga-se.

É claro que muitas vezes sinto que falta alguma coisa, mas como não sei qual tempero faz o que exatamente, ainda não me arrisco a mudar nada. Eu sei, eu sei, o que eu preciso mesmo é ler mais sobre os temperos e provar mais coisas indianas, mas enquanto isso eu vou fazendo meu curry automático que já está de bom tamanho.


Curry de frango
(receita adaptada do site Culinate)

- Dois peitos de frango sem osso e sem pele
- Uma cebola picada
- Três dentes de alho picados
- Uma lata pequena de tomates sem pele
- Um pedaço médio de gengibre ralado
- Uma colher de sopa de cominho
- Uma colher de sopa de coriander (sementes de coentro moídas)
- Uma colher de sopa de garam masala
- Uma colher de chá de curcuma
- Meia colher de chá de pimenta cayenne
- Sal e azeite de oliva a gosto

Corte os filés de frango em cubos e tempere-os com sal e pimenta do reino, se quiser um pouco de suco de limão. Numa panela média, esquente um fio de azeite e coloque as cebolas para dourar. Depois de um minuto ou dois, acrescente o alho e o gengibre ralado, e deixe cozinhar mais uns dois minutos. Depois acrescente todos os temperos e cozinhe por mais um minuto, mexendo bem para que não grude no fundo da panela.

Coloque os pedaços de frango e misture-os aos temperos. Quando o frango estiver começando a pegar cor, coloque a lata de tomate. Eu percebi que amassando os tomates antes o caldo fica mais encorpado, mas você pode simplesmente amassar os tomates com a colher de pau já na panela. Deixe cozinhar por vinte e cinco a trinta minutos em fogo baixo, até o frango cozinhar por completo. Prove e acerte o sal.

Eu gosto de acrescentar alguns vegetais ao curry - no meu caso, coloquei uma seleta congelada de cenouras, brócolis e couve-flor, que eu cozinhei no vapor separadamente e juntei só no final. Também gosto de terminar com um fiozinho de creme de leite, mas se não me engano isso transforma o curry em outro prato. Anyway. Sirva com arroz basmati ou jasmim e lascas de amêndoas tostadas.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Pensamentos de lava-louça

Quem não tem máquina de lavar louças, como eu, sabe como é cansativa e repetitiva essa tarefa*. Mas eu aproveito esse tempo nada glamouroso para desacelerar, planejar, esfregando a louça suja do almoço eu já estou pensando no jantar, e com as mãos cheias de detergente anti-stress (não falta inventar mais nada) eu penso na vida e em como ela é cíclica, em como mal terminamos uma coisa já estamos repetindo tudo outra vez, como tanta coisa em nós consiste em fazer e destruir, só para ter a oportunidade de começar de novo, mas é importante fazer e destruir de novo, usar os mesmos pratos, sujá-los e lavá-los e guardá-los para usar de novo e de novo... No fim acho que não é tão ruim não ter máquina de lavar, para mim é um ato filosófico.

* Aqui em casa Luiz sempre se oferece para lavar a louça, já que ele não cozinha, mas como eu me incomodo muito menos do que ele, termino trocando essa tarefa doméstica por outras de que gosto menos. Há pouco tempo vimos um filme onde uma família jogava jogos de mímica e palavras-cruzadas e, aos perdedores, restava a pia cheia de louça suja! Achei uma excelente e divertida idéia para uma família grande ou mesmo fim de festa - sim, porque acredito nos convidados que se oferecem para lavar a louça ou pelo menos dar uma arrumada na bagunça, mesmo que seja por mera formalidade. Nada menos elegante do que o famoso já comi, já bebi, o que estou fazendo aqui...

Cannelloni de beringela


Essa idéia é tão simples que não precisa de receita. Comecei fazendo um molho de tomate bem básico com cebola e alho dourados no azeite, uma lata de tomates italianos pelados, manjericão fresco, orégano seco, uma pitada de pimenta calabresa e uma folha de louro. Cozinhei tudo em fogo baixo por uns vinte minutos e depois bati no liquidificador - menos a folha de louro, claro. Pode-se também usar molho de tomate pronto, mas eu prefiro fazer eu mesma.


Depois fiz o recheio do cannelloni misturando duas partes de ricotta e uma de queijo de cabra. Temperei com bastante sal e pimenta e mais manjericão. Depois cortei duas berinjelas médias (poderia ter sido uma grande) em fatias compridas de cerca de um centrímetro de grossura e botei para grelhar dos dois lados. Se ainda não estivesse tanto frio por essas bandas, eu teria feito tudo de uma vez só na churrasqueira, mas tive que me resignar e grelhar duas fatias de cada vez no fogão mesmo.

Quando as beringelas estavam grelhadas e maleáveis, comecei a montar o prato. Coloquei duas conchas do molho de tomate forrando generosamente o fundo de um refratário. Depois peguei uma fatia da beringela, coloquei uma colher do recheio em uma das partes e enrolei. Coloquei no refratário com a parte enrolada para baixo, e assim fui enrolando e arrumando até terminarem as beringelas.


Coloquei um pouco de parmesão ralado na hora por cima e assei em forno médio-alto (400F) por 25-30 minutos. Fiquei positivamente surpresa ao ver que as beringelas comportaram-se perfeitamente bem no lugar da massa - mantiveram a forma, protegeram bem o recheio e ainda pegaram uma corzinha linda. Por um instante tive medo delas cozinharem demais e ficarem empapadas no molho, mas que nada. Ficaram deliciosas, e complementaram perfeitamente o recheio cremoso e o molho meio picante. Perfectly delicious!