segunda-feira, 11 de junho de 2012

A vida íntima das papinhas (parte 2)

Pois bem, passado aquele período inicial em que o pequeno se recusou a aceitar o conceito de "comer" (fase bastante compreensível, diga-se de passagem), posso confiar que agora a coisa vai engrenar, certo? Claro que não! Como tudo o mais na maternidade, é preciso estar pronto para dar dois passos à frente, um para trás, ou três, ou quatro, o que for. Como me disse (rindo) uma enfermeira especializada em lactação para quem telefonei insistentemente nas primeiras semanas de vida do meu filho, "a maternidade é  uma coisa dinâmica"... Este deveria ser o lema de todas as mães de primeira viagem!

O segundo mito a ser desconstruído foi, portanto, o da progressão em relação à receptividade (e quantidade) dos alimentos. Ou seja, não é porque num belo dia ele devorou o purê de mandioquinha com cenoura e couve manteiga que no dia seguinte vai acontecer de novo. Não é porque comeu um bocado esta semana que vai comer ainda mais na próxima. Quer previsibilidade? Quer planejar a introdução gradual dos alimentos e montar o cardápio da semana inteira baseado nos nutrientes e cores de cada grupo? Esqueça!
 
É preciso estar preparada para as ocasiões mais imprevisíveis e estapafúrdias. Outro dia mesmo meu filho virou a cara para a papinha, mas demonstrou um interesse fora do comum pelo creme de brócolis que eu havia feito para mim mesma (com azeite, sal, pimenta, temperos, tudo). Não hesitei e deixei o pequeno se empanturrar (e deste dia em diante passei a fazer a comida dele mais parecida com a minha, inclusive com uma pitadinha de sal, que a pediatra dele não me leia...).

Sei que essa imprevisibilidade pode ser bastante frustrante, especialmente quando o bebê recusa veementemente aquela comidinha linda que você fez com tanto carinho e atenção (e tempo!), ou passa dias inteiros sem querer comer nada sólido, só no peito (isso acontece com frequência com meu pequeno). Nessas horas é importante lembrar que ele não faz de propósito (dã!) e que não vai morrer de fome, desde que continue mamando bem*.

Mas também é bom que seja assim! Isso mostra que os bebês são pequenos indivíduos, e não pequenos robôs ou pequenas matérias levemente animadas. Eles têm dias de mais e menos fome, têm seus momentos de indisposição (sobretudo por causa dos dentinhos que costumam nascer neste período), e - o que para mim é mais fascinante - já têm também suas preferências. Marcel tem uma quedinha clara pelas frutas, e dentre elas escolheu AMAR logo a que eu mais detesto (acertou quem disse banana).

Tem prova de amor maior do que limpar essa carinha linda toda besuntada de banana?

* No próximo post falarei sobre o livro do Dr. Carlos Gonzalez (Mi niño no me come), que tem me instruído bastante sobre quanto os bebês realmente devem comer.