sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Into the wild


Acabo de ver um filme belíssimo dirigido pelo Sean Penn chamado Into the Wild (obrigada, Dani, pela dica). É baseado na história real de um jovem norte-americano, Christopher McCandless, que, depois de se formar para agradar aos pais, abandona tudo para ir morar na selva. Ele dá todo o dinheiro que tem para caridade, queima seus documentos, abandona o carro e cai na estrada, numa aventura que o leva cada vez mais para o lado "selvagem" da vida, ou seja, o mais longe possível da civilização.

O filme é maravilhoso e me deu arrepios em alguns momentos. O que justifica falar dele por aqui é justamente a relação do protagonista com a natureza. As cenas mais impressionantes são as que o mostram completamente sozinho, tendo que se virar para comer catando frutas silvestres e caçando pequenos animais. O filme parece ter uma preocupação particular com isso, pois o mostra trabalhando num Burger King para juntar um dinheirinho, e também numa fazenda de (Michael Pollan ia gostar) milho. A cena na qual ele caça um alce e fica sem saber o que fazer depois me emocionou muito, e me fez lembrar do Dilema do Onívoro.

Acho que o que atraiu McCandless para esta aventura, além de seu espírito rebelde, foi o mistério que este estado natural de vida exerce sobre a gente. Tem uma passagem no In Defense of Food que diz que nossa relação com os animais e com a natureza é inteiramente baseada neste mistério, pois são criaturas e coisas que não criamos e as quais não controlamos. O fato deles serem independentes e às vezes contrários ao que a gente chama de civilização - e, ainda assim, dependemos deles para viver - nos intriga de maneira sedutora. É preciso manter em mente esse mistério quando comemos algo que vem da natureza, e acho que o filme transmite isso de maneira belíssima.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Salmão com lentilhas e manteiga de ervas

Sempre procurando uma receitinha nova para a dose semanal de salmão, deparei-me com esta que me pareceu muito interessante. Ela usa as lentilhas francesas, também conhecidas como Du Puy, que são menores, mais firmes e mais escuras do que as lentilhas verdes, e muito saborosas também. O contraste do rosa do salmão com o marrom escuro das lentilhas ficou muito elegante no prato, que não precisou de nenhum acompanhamento a mais para um almoço leve.

Salmão com lentilhas e manteiga de ervas
(adaptado da revista Gourmet de março/2008)

Para a manteiga de ervas:
- cinco colheres de sopa de manteiga sem sal em temperatura ambiente
- uma colher de chá de estragão*
- uma colher de chá de cebolinha*
- duas colheres de chá de mostarda Dijon, daquela com os grãozinhos
- suco de meio limão siciliano

Para fazer, basta picar bem as ervas e misturar todos os ingredientes em temperatura ambiente. A manteiga pode ser feita com antecedência e conservada em geladeira. *Como eu não tinha estragão em casa, usei herbes de provence com sucesso, o que me faz concluir que você pode usar qualquer combinação de ervas de sua preferência.

Para as lentilhas:
- um copo de lentilhas francesas Du Puy
- quatro copos de água
- dois alhos-poró (usei alho comum)
- uma colher de chá de manteiga

Coloque as lentilhas numa panela média e cubra com a água. Cozinhe em fogo brando, destampado, por vinte minutos, ou até as lentilhas começarem a ficar macias. Escorra e reserve meia xícara do líquido do cozimento. Numa frigideira, doure o alho-poró na manteiga e depois acrescente as lentilhas e metade da manteiga de ervas. Coloque um pouco do líquido do cozimento das lentilhas e cozinhe até a manteiga derreter e o líquido evaporar um pouco. Se quiser, coloque mais sal e pimenta e um pouco de suco de limão. Desligue o fogo e deixe tampado para não esfriar.

Para o salmão:
- quatro filés de salmão
- duas colheres de sopa de manteiga
- sal e pimenta a gosto

Tempere os filés de salmão com sal e pimenta (não muito) e doure na frigideira com manteiga até dourar e cozinhar por completo, cerca de seis minutos. Cuidado para não cozinhar demais o salmão, o ideal é que ele fique ainda bem rosadinho no meio. Sirva sobre as lentilhas e coloque o restante da manteiga de ervas por cima.

Era uma vez uma Páscoa

Em Brasília, em alguma Páscoa dos anos oitenta, meus pais decidiram me vestir de coelhinha para tirar uma foto. Boa idéia, só que a Srta. chatonilda não queria nem segurar a cenoura, muito menos ser fotografada dando uma bela mordida nela. Felizmente eles conseguiram registrar o momento antes que eu desse o meu chilique e jogasse a cenoura longe. E, felizmente também, hoje em dia eu amo cenouras.

Mas eu dei foi muito trabalho aos meus pais com minha chatice para comer. Lembro-me que eu só comia o caldo do feijão, sem os grãos, e a minha santa mãezinha sentava ao meu lado com um coadorzinho de prata amassando colherada por colherada do feijão. Tinha também um prato com uma imagem do Super-Homem no fundo, e eu só comia com a promessa de ver o diabo do Super-Homem... Outro dia reencontrei uma amiga dessas épocas e a mãe dela disse que lembrava de mim como "a garota que veio jantar em casa e só comeu meia mixirica". Meia mixirica! Nossa, como eu era chata...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cassoulet vegetariano


Esta foi a primeira receita da revista Gourmet de março a aparecer para o jantar lá em casa. Se um cassoulet (o famoso ensopado francês que parece a nossa feijoada) sem carne ainda é ou não cassoulet é uma discussão que pouco me importa; eu adorei a receita carne-free e achei que satisfaz muito bem deste jeito. Pelo menos durante a semana estou tentando limitar o consumo de carne ao máximo de uma porção por dia, ou seja, se eu comer frango no almoço dou preferência a um jantar vegetariano.

A receita faz uso da mesma técnica da sopa toscana de amassar os feijões brancos para engrossar o caldo, resultando num ensopado grosso e cremoso. Também tem uma farofinha de farinha de rosca tostada que assemelha-se ao pangrattato de Jamie Oliver, com a adição de alho. Não sei se é impressão minha, mas tenho achado as receitas de revistas menos precisas e certeiras do que as que eu vejo na televisão (também tem o fator visual que ajuda), de maneira que sempre faço algumas alterações.

Cassoulet vegetariano
(adaptado da revista Gourmet de março/2008)

- 3 alhos-poró (usei dois)
- 4 cenouras médias (usei duas grandes)
- 3 talos de aipo (usei dois)
- 4 dentes de alho picados, mais um para a farofinha (usei três)
- uma colher de chá de tomilho (usei seco)
- uma colher de chá de salsinha
- uma folha de louro
- 3 latas de feijões brancos cannellini (usei duas)
- um litro de água (usei um pouco menos)

Comece lavando bem os alho-porós e escorrendo os feijões e lavando-os também. Corte as cenouras e aipo em pedaços médios (não muito pequenos para não despedaçarem-se no ensopado; lembre-se que estes são as estrelas do ensopado, não os coadjuvantes). Cozinhe o alho-poró, cenouras e aipo em azeite numa panela grande, junte as ervas, sal e pimenta e cozinhe por uns dez minutos, até os vegetais começarem a amolecer. Coloque a água e cozinhe com a tampa entreaberta por mais vinte a trinta minutos, até a cenoura ficar macia mas não despedaçar.

A receita mandava colocar os feijões junto com a água, mas como os que tinha já vinham cozidos achei por bem de só colocá-los no final. Separe metade dos feijões, amasse metade com uma colher e deixe a outra metade inteira. Quando o cassoulet estiver pronto, coloque os feijões (inteiros e amassados) e deixe cozinhar mais uns dois minutinhos. Neste ponto eu coloquei também umas lentilhas que tinha dando sopa na geladeira. Veja se precisa de mais sal ou pimenta, jogue fora a folha de louro e sirva com a farofinha tostada por cima.

Para fazer a farofinha, pegue uma xícara de farinha de rosca (de preferência fresca) e misture com um dente de alho picadinho, um pouco de queijo parmesão ralado e um fio de azeite de oliva. A revista mandava tostar no forno, mas eu fiz na frigideira mexendo sempre até ficar tudo bem tostadinho.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cappuccino


Minha querida amiga Paula pediu para que eu postasse mais receitas com café, começando pelas mais básicas e tradicionais. Tarefa que me pareceu altamente agradável, pois eu amo café e não sou ninguém sem um cappuccino. Enquanto preparava um para o meu sagrado lanche da tarde, pus-me a pensar como é simples, e divino, o cappuccino: um expresso bem forte e doce, um dedinho de leite cremoso (não muito, senão vira latte) e aquela espuma irresistível do leite quente batido.

Pois bem, fazer o cappuccino é extremamente simples, o problema é que você precisa de alguns aparatos indispensáveis, e muitos deles podem custar caríssimo. O primeiro deles é uma máquina de fazer expresso. E se você não tem dinheiro para bancar uma dessas, não se preocupe, porque uma dessas te dá o expresso mais gostoso que você será capaz de fazer em casa.

A minha nem é italiana legítima e funciona que é uma beleza.

O segundo aparato importante é o negocinho de bater o leite até formar aquela espuminha. Pode parecer frescura, mas a espuminha é importante: além de fornecer o visual de um cappuccino profissional, ela mantém a temperatura do café estável para que você possa saborear seu cappuccino bem devagar. Aqui também os preços variam do absurdo, só para profissionais, ao baratinho que dá o mesmo efeito. E, novamente, é uma dessas baratinhas que eu tenho e uso.

Pois bem, agora que você já tem todos os seus aparatos, como fazer um tradicional cappuccino? Bem fácil: faça um café expresso bem forte na sua maquininha italiana (ou não), e enquanto isso esquente um ou dois dedinhos de leite (a proporção correta é 1/3 de leite para uma xícara de expresso, mas use o quanto quiser). Pode esquentar no microondas, mas não deixe ferver. Quando o leite estiver quente, incline a panela e meta o seu "frother" até começar a formar uma espuma na superfície. Sirva o expresso na xícara, adoce e mexa bem para evitar que o açúcar fique todo no fundo da xícara, porque depois de colocar sua espuminha em cima você não vai estragar tudo mexendo o café, não é mesmo? Então, depois, com uma colherzinha, empurre a espuma do leite e deixe cair no café o leite que ainda está líquido. Finalize com a espuma por cima e uma pitadinha de canela para aromatizar tudo. Paulinha, espero que goste ;-)

PS: Este site dá uma dica interessante para quem não tem a maquininha de fazer espuma. Dá mais trabalho, é verdade, e não sei se funciona mesmo, mas pode ser uma saída interessante.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Biscotti de parmesão e pimenta do reino (versão integral)


Já é a segunda vez que faço esta delícia catada lá do blog da Ana Elisa, que por sua vez inspirou-se na Smitten Kitchen. Na primeira vez eu inventei de quebrar os grãos de pimenta num pilão vagabundo que tenho (e uso para fazer caipirinhas), processo que levou uns vinte minutos e me deixou com o braço doendo e uns grãos de pimenta quase inteiros. Resultado: os biscotti ficaram altamente picantes!

Da segunda vez, eu moí a pimenta no moedor mesmo, e usei menos do que a quantidade indicada na receita. Também testei substituir metade da farinha branca por integral. Tive que fazer outras adaptações nas quantidades enormes da receita original, já que no meu forno pré-histórico e capenga só se assa uma coisa de cada vez. Mesmo cortando tudo pela metade, fiquei com uns vinte biscotti maravilhosos. A farinha integral aumentou o sabor sem ficar pesada, e a quantidade de pimenta ficou no ponto para mim.


Biscotti de parmesão e pimenta do reino - versão integral
(para a receita original, veja aqui):

- Uma colher de sopa quase cheia de pimenta do reino moída na hora
- Uma xícara de farinha de trigo branca
- Uma xícara de farinha de trigo integral
- Uma colher de chá de fermento em pó
- Uma colher de chá de sal
- Uma xícara de parmesão ralado (e mais um pouco para polvilhar)
- Um tablete (aprox. 120g) de manteiga fria, cortada em cubinhos
- Dois ovos (e mais um para pincelar)
- Meia xícara de leite

Misture numa vasilha as farinhas, fermento, pimenta, parmesão e sal. Coloque os cubinhos de manteiga fria e vá amassando com as mãos, até formar uma massa com aspecto de aveia. Bata os ovos ligeiramente com o leite e jogue na mistura de farinha, mexendo até obter uma massa. Se a massa não se formar, acrescente um tiquinho a mais de leite - caso contrário, se estiver muito úmida e grudando nos dedos, coloque mais farinha.

Numa superfície bem enfarinhada, coloque a massa e corte nem na metade. Forme cada metade num rolo do cumprimento da sua assadeira. Achate o rolo para que ele fique relativamente fino, formando um "tronco" (é assim que a autora da receita se refere). Pincele os troncos com um ovo batido e polvilhe com um pouco mais do parmesão por cima. Depois, doloque os dois troncos na assadeira e leve ao forno pré-aquecido por uns trinta minutos, ou até começarem a ficar dourados e firmes.

Deixe esfriar por alguns minutos, e depois corte os troncos em fatias na diagonal, formando os biscotti. Espalhe os biscotti novamente na assadeira e asse por mais 15 minutos de cada lado. Deixe esfriar novamente, e depois guarde num pote vedado.

Sincronicidades

Adoro sincronicidades, do tipo justamente agora que eu vinha obcecando com a história dos suflês, a edição especial da revista Gourmet traz uma reportagem com dicas e técnicas infalíveis, um texto lindíssimo e uma receita imperdível de suflê de alho assado - que passará das palavras à minha mesa ainda esta semana, prometo.

Por sinal, essa edição especial "French Bistro Food" da Gourmet está um luxo só, com receitas altamente promissoras inspiradas na região de Provence, e fotos lindíssimas. O profiteroles com sorvete de café que ilustra a capa que me aguarde!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Suflê de nutella com sorvete


O papo sobre suflês do post abaixo me fez pensar numa coisa absurda - como, COMO, em quase um ano de existência deste blog, eu não tinha mencionado ainda o famoso suflê de nutella? Em poucas palavras, este suflê foi a primeiríssima receita que testei com sucesso de público e crítica (e quando digo primeira, é primeira mesmo, antes de saber fazer arroz eu aprendi a fazer este suflê - cada um com suas prioridades, né...).

O sucesso foi tamanho que venho fazendo este suflê há anos, e até no Rainhas do Lar ele andou sendo testado e aprovado algumas vezes. Só quando estive no Brasil no natal do ano retrasado acho que fiz umas vinte vezes, atendendo aos ardentes pedidos familiares. O que falar? A combinação do quente com o frio, a leveza da massa com o sabor substancial do chocolate e nutella, o aroma que sai do forno... é uma das sobremesas top 5 para mim.

Então, já que estava falando em suflês, resolvi evocar novamente esta maravilha. A receita com o passo a passo você encontra nos links do Rainhas mencionados acima - a Faby inclusive fez o dela sem o açúcar e hoje em dia eu também faço o meu sem, embora esfarele um pouquinho de açúcar nos ramequins amanteigados para dar aquele "crunch" na hora de comer. Outra dica interessantíssima é a de encher os ramequins só até a metade, porque aí sobra espaço para servir o sorvete por cima sem estragar a apresentação do prato. Como diria JC, it's perfectly delicious!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Suflê de cenoura com queijo


Na minha opinião, soufflé é uma das técnicas mais encantadoras da culinária francesa. Um sopro de vida, como o próprio nome diz. Como simples claras batidas em neve conseguem dar uma textura leve, aerada, transformando tudo o que tocam em nuvens, é uma mágica. Depois que você descobre como é fácil fazer um suflê bem-sucedido, então, dá vontade de fazer suflê de tudo (a boa notícia é que dá pra fazer suflês de praticamente tudo).

O primeiro passo para se fazer suflês começa com uma outra receita básica francesa, a do molho bechamel. Uma vez dominadas a técnica do roux (a "pasta" de manteiga e farinha que engrossa os molhos) e de bater claras em neve (facílima para quem tem uma batedeira em mãos), você só precisa de um pouco de zelo e paciência para fazer um suflê do que desejar.

Ontem à noite fiz um de cenoura com queijo suíço. A cor e o sabor ficaram perfeitos, só não gostei da textura do queijo que usei, que não era da melhor qualidade e não derreteu direito. Era um queijo para sanduíches, daqueles já fatiados, mas era a única coisa que eu tinha na geladeira... Da próxima vez vou deixar sem queijo ou usar parmesão ralado, que acho que daria uma combinação de sabores ainda melhor.


Comecei cozinhando três cenouras médias no vapor até começarem a desmanchar. Bati as cenouras no liquidificador com meia xícara de caldo de galinha até obter um purê macio. Temperei com sal e pimenta e reservei. Depois, derreti três colheres de sopa de manteiga numa panela com a mesma quantidade de farinha de trigo, fazendo o tal do roux. A diferença deste procedimento para o bechamel clássico é que, ao invés do leite, você adiciona o purê de cenouras ao roux, mas o procedimento é o mesmo. Depois de misturar bem o purê ao roux com um batedor de arame, tirei do fogo para esfriar um pouco, e juntei meia xícara de queijo suíço (não use um queijo vagabundo como eu fiz) e duas gemas de ovos orgânicos grandes.

Separadamente, bati as claras destes mesmos ovos em neve com uma colher de sopa de mel até formar picos rígidos. Lentamente, misturei as claras em neve à mistura cor de laranja vibrante até que não desse mais para ver o branco das claras. Passei manteiga em três ramequins médios (pode ser também um grande) e coloquei neles a mistura. Levei ao forno pré-aquecido a 400F/200C por uns vinte minutos, ou até o suflê ficar inflado como uma nuvem e dourado no topo. É preciso servir o suflê imediatamente, pois o sopro de vida desta criatura, como de todas as coisas mais belas, é passageiro (na foto ele já estava murchando).

Uma última dica para se obter um suflê bonito é assá-lo em banho-maria, ou seja, colocar o ramequim de cerâmica dentro de um recipiente maior e encher este último de água fervente até a metade. Não encha demais para não correr o risco de entrar água no seu suflê - é só o suficiente para que o suflê cozinhe mais lentamente e por igual.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Comida para ver o Oscar

O site Epicurious criou um especial com menus inspirados nos filmes que estão concorrendo ao Oscar deste ano. De cara já gostei da combinação de duas coisas que ocupam uns 80% da minha vida: cinema e comida. Entretanto, não vi lá muita relação entre as comidas, elaboradíssimas, e os filmes nos quais elas supostamente foram inspiradas (o menu de "Juno", por exemplo, deveria ter um macaroni & cheese e outras junk-foods em homenagem aos adolescentes - e porque Juno chama o namoradinho de "cheese" do macaroni dela).

Acho que um menu para assistir ao Oscar deveria ser algo mais simples e prático para se beliscar vendo a cerimônia na TV, que, vamos lembrar, é bem longa. Eu, que já dei muito plantão sozinha na redação do jornal até as 3 da manhã para cobrir a cerimônia, vou ficar em casa de pijamas, torcer para o maravilhoso "There Will Be Blood" e fazer uma coisa bem simples, caseira e stress-free: pizza. Se bem que agora me animei para pensar em recheios inspirados nos filmes... alguém tem alguma sugestão?

Em defesa da comida


Senta que lá vem a história.

Terminei de ler “In Defense of Food”, novo livro de Michael Pollan (autor de O Dilema do Onívoro) e, como acontecera com seu livro anterior, fiquei meio perplexa com o que li. Enquanto no livro anterior Pollan seguiu a rota das cadeias alimentares modernas para mostrar o processo de industrialização da agricultura, neste livro ele contempla outros problemas associados ao que ele chama de “dieta ocidental” (que não é o mesmo que fast-food, chegarei lá), mais diretamente relacionados à nossa nutrição e saúde. Porque os norte-americanos são tão preocupados com comer comidas saudáveis e fazer dietas e estão, ao mesmo tempo, cada vez mais gordos e doentes? Pollan tenta provar que “orthorexia”, preocupação excessiva ou doentia com alimentação (pseudo)saudável, deveria ser um transtorno alimentar reconhecido pela ciência, e de quebra dá dicas para escapar dessa terrível situação. Daí a frase que saiu no New York Times e sintetiza a filosofia por trás do livro: “Coma comida. Não muito. Na maioria plantas” (Eat food. Not too much. Mostly plants).

Pollan é surpreendentemente severo com os nutricionistas que, em sua opinião, são culpados por essa tendência reducionista de olhar a comida não pelo que ela é, mas pelos nutrientes (vitaminas, gordura, antioxidantes etc.) que contém. Para quem estava esperando uma critica na linha “neo-hippie” ao consumismo americano, às grandes corporações que promovem a industrialização dos alimentos, e à publicidade que empurra estes produtos especialmente nas crianças, ele preferiu um caminho muito menos navegado e, por isso mesmo, ousado: questionar a hierarquia da ciência sobre coisas como cultura e tradição. Enquanto acho que ele é muito radical às vezes (questionando se nutricionismo é mesmo uma ciência, e duvidando dos valores dos nutricionistas), concordo absolutamente com a idéia de que aqueles que dizem “coma isto, não coma aquilo” nem sempre sabem o que estão dizendo. Uma hora devemos evitar gorduras e carne vermelha; na outra os vilões são os carboidratos, e nós ficamos cada vez mais perdidos lendo as embalagens dos milhares de novos produtos que chegam regularmente ao mercado. Resumindo: às vezes nossas mães, nossa cultura, sabem mais o que é melhor para a gente do que os cientistas.

Tudo isso leva Pollan à conclusão de que comida não deve ser tratada como “nutrição” ou “remédio”, porque isso nunca vai funcionar. Em primeiro lugar, porque comida é muito mais do que a soma de seus nutrientes (muitos dos quais os cientistas ainda nem conhecem), e comer é um ato social e cultural, agricultural e político. Em segundo lugar, porque quanto mais se processa industrialmente um alimento, mais se perde o controle sobre seus nutrientes, de maneira que um anti-oxidante benéfico encontrado naturalmente numa fruta pode não servir para nada quando isolado e colocado num iogurte ou numa pílula. É daí que vem, pelo menos para mim, a maior revelação do livro: os alimentos lights, com fibra, vitaminas e omega-3 adicionados são tão processados quanto uma refeição de fast-food - ou mais, já que para tirar a gordura natural do leite no iogurte light eles precisam substituir com alguma coisa (99% de chance dessa “alguma coisa” não ser nada boa...).

Aí a carapuça serviu. Eu nunca fui fã de fast-food e me considero relativamente imune à tal da “dieta ocidental”, mas tenho que admitir que já fui enfeitiçada por falsos anúncios de coisas low-fat, fat-free e similares, na falsa promessa de comer melhor e/ou perder peso. Já comprei minha cota de barras com fibras e suco de laranja e ovos com omega-3, sem pensar que, ao adicionar a fibra que supostamente tem o omega-3 na ração da galinha, que daí passa para o ovo que eu como, esse omega-3 pode perder sua função natural e pode até ser maléfico (aguardem os próximos relatórios científicos). O que eu não sabia, e Pollan deixa bem claro, é que qualquer alimento processado industrialmente é necessariamente inferior ao original que ele visa substituir, mesmo que seja para, supostamente, torna-lo mais saudável. Na maioria dos casos, os nutrientes adicionados mal compensam aqueles que são perdidos no processo de refinamento – a publicidade apenas foca numa coisa em detrimento da outra. Pode parecer contra-intuitivo, mas Pollan diz para manter distância dos alimentos com anúncios saudáveis (light, fat-free e similares), mesmo aqueles com o selo (corrupto, pois não passa de mais um golpe publicitário) da associação para controle das doenças cardíacas.

Os alimentos mais saudáveis para você são aqueles sem selo do Heart & Stroke Foundation, sem anúncios, provavelmente sem embalagens e códigos de barra. São aqueles que sua avó, ou bisavó, reconheceria como comida. São aqueles que nossos ancestrais vêm consumindo há milhares de anos sem sofrer as mesmas doenças que sofremos hoje (cultura e tradição 1 x 0 ciência). Aqueles cujas combinações e preparos, nossos ancestrais também sabiam, tiram o máximo proveito de seus nutrientes (cultura e tradição 2 x 0 ciência). Aqueles cuja lista de ingredientes não passa de seis nomes, e que não contém nomes desconhecidos ou impronunciáveis. Aqueles que estragarão em uma semana se você não consumi-los (alimentos que duram para sempre não podem ser bons). Melhor ainda se forem aqueles que você sabe quem plantou ou colheu, sem falar nos que você mesmo plantou e colheu. É mais ou menos isso que Pollan quer dizer com “coma comida, não muito, e na maioria plantas”.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sopa toscana de vegetais


Não lembro mais onde peguei esta receita, mas gostei dela porque já tinha todos os ingredientes na geladeira/despensa, o que é raro. Acho que o "toscana" vem do uso dos feijões brancos (canelinni), bem cremosos, além da abobrinha, tomates e cenoura. É uma sopa bem simples e que satisfaz bem.

Ingredientes:

1 lata de feijões brancos (canelinni), daqueles que já vem cozidos
1 cebola pequena, picada
2 a 3 dentes de alho picados
2 cenouras cortadas em cubinhos
2 talos de aipo cortados
1 abobrinha cortada em cubinhos
1 colher de sopa de tomilho fresco (usei 1 colher de chá do tomilho seco)
1 colher de sopa de sálvia fresca picada (umas 8 folhas grandes)
Sal, pimenta e azeite de oliva
1 litro de caldo de galinha ou de vegetais
1 lata de tomates pelados
Parmesão ralado na hora

Primeiro, escorra os feijões e lave-os com água fria para tirar o excesso de líquido da lata. Separe metade dos feijões e amasse-os bem com um garfo. Reserve.
Numa panela grande e pesada, doure a cebola e o alho num fio de azeite. Acrescente os vegetais (abobrinha, cenoura, aipo) e ervas e cozinhe por mais uns cinco minutos, até os vegetais começarem a amolecer. Junte o caldo, tomates, tempere com sal e pimenta a gosto e deixe ferver por mais uns 7,8 minutos. Por fim, coloque os feijões (amassados e inteiros) e cozinhe mais uns 5 minutos. Os feijões amassados deixam o caldo menos ralo e com uma textura mais interessante, o que gostei bastante. Sirva com parmesão ralado na hora.

Prêmio? Uau!

Só hoje fui ler os e-mails e comentários e vi que tinha presente para o blog! A Ana Elisa e a Lilian indicaram o Inner Life of Food para um prêmio que anda circulando pelos blogs de comer. Fiquei honrada! Não sei como o prêmio começou, mas foi uma idéia muito interessante para conhecer novos blogs, saber quem te lê sempre e ainda mostrar sua admiração aos blogs que você visita com frequência. Eu sei que agora tenho que indicar mais 7 blogs, e não tenho certeza se pode repetir/retribuir a indicação. De qualquer modo, vou indicar os blogs que me inspiraram a criar meu blog, os que leio quase obsessivamente e os que descobri recentemente, sem ordem de preferência:

Agdá
Chucrute com Salsicha

Come-se

La Cucinetta
Sopa Vermelha
Dadivosa
Sabores da Lica

Agora tenho que reproduzir as regras, né?
1 - Este prêmio deve ser atribuído aos blogs que considerem serem bons. Entende-se como "bom" os blogs que costuma visitar regularmente e onde deixa comentários;
2 - Só se recebeu o "É um blog muito bom sim senhora", deve escrever um post incluindo: a pessoa que lhe deu o prémio com um link para o respectivo blog; a tag do prémio; as regras; e a indicação de outros 7 blogs para receberem o prêmio.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Temperos

sábado, 16 de fevereiro de 2008

B-B-Brownies


Ontem me deu um desejo incontrolável de comer brownies, mas tinha que ser daqueles bem densos por dentro e com aquela casquinha quebradiça por fora - ou seja, nada abaixo da perfeição iria me satisfazer. Procurei uma receita que tinha anotada há séculos dos "outrageous brownies" de Ina Garten, guardada justamente para uma situação como esta. Só que a receita pedia nada menos que 500g de manteiga e quase a mesma quantidade de chocolate (ah, deve ser por isso que eles se chamam outrageous brownies...), mas eu 1)não tinha essa quantidade em casa nem condições de sair para comprar, e 2)não tive coragem de usar esse tanto de manteiga de uma só vez.

Então eu comecei a adaptar as medidas ao que eu tinha em casa, primeiro, cortando tudo pela metade, depois a metade pela metade. Só que, e aqueles que me conhecem sabem disso, eu sou péssima com números e contas de dividir - quando tem que usar medidas e conversões então, nem se fala. Daí que no fim das contas eu terminei mudando tudo e contrariando todas as regras e recomendações de que baking é uma ciência exata e as medidas devem ser respeitadas a qualquer custo. O resultado pode não ter sido escandaloso como o de Ina, mas ficou bom, e matou a minha vontade de brownies, especialmente aquele que eu comi ainda quentinho recém-saído do forno. Nham!


A receita original está aqui, mas se depois de ler este post você ainda confiar em mim, essas foram as medidas que eu usei:

- 1 tablete de manteiga (aprox. 120g)
- 200g chocolate meio amargo
- 2 ovos
- 1/2 colher de sopa de café solúvel
- 1/2 colher de sopa de extrato de baunilha
- 1/2 xícara de açúcar
- 1/2 xícara de farinha de trigo
- 1/2 colher de sopa de fermento em pó

1- Derreta a manteiga e o chocolate em banho-maria, e deixe esfriar um pouco.
2- Em outra vasilha, misture os ovos, café, baunilha e açúcar. Aos poucos, incorpore o chocolate derretido a esta mistura, mexendo sempre para não cozinhar os ovos.
3- Passe a farinha e o fermento por uma peneira, e junte à mistura de chocolate. Neste momento, se quiser você pode acrescentar nozes picadas à massa.
4- Coloque numa forma quadrada pequena amanteigada e enfarinhada, e asse em forno médio por 20 minutos, ou até o palito sair limpo. Deixe esfriar e corte em quadradinhos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Costeleta de porco com molho cremoso ao estragão

Embora eu quase sempre prefira o filé do porco, às vezes dá vontade de fazer uma costeleta grelhada, que é easy as 1-2-3 (sendo 1 - temperar os dois lados com sal e pimenta, 2 - grelhar em grelha bem quente quatro minutos de cada lado, 3 - deixar descansar por uns 5 minutos e servir).

Para o molho eu segui as dicas de um livro sobre assados e grelhados, e dourei meia cebola ralada na manteiga, depois coloquei meia xícara de caldo de galinha e deixei reduzir; por fim acrescentei uma colher de mostarda Dijon, um pouco de creme de leite fresco, sal, pimenta e folhas de estragão picadas. Ficou bom, mas achei o gosto do estragão forte demais - da próxima vez usarei menos. Servi com vagens cozidas ao vapor e depois douradas na grelha que grelhou o porco, e saladinha verde.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pizza caseira


A história da pizza caseira foi acontecendo aos poucos. Primeiro eu comprei uma massa pronta, dessas já assadas, que eu fazia a ficava gostosinha, mas sem gosto de pizza de verdade. Evoluí para a massa congelada, que eu abri com o rolo e ficou uma delícia, mas quando eu fui olhar a lista de ingredientes lá estava a palavra maldita - SHORTENING -, que pra mim devia vir com aquelas caveirinhas de veneno do lado. O próximo passo, claro, era fazer a massa eu mesma. Não sei nem porque eu demorei tanto para fazer isso, já que não tem nenhum mistério. São aquelas coisas que a gente fica enrolando, enrolando, até que finalmente cai a ficha. Mas enfim, para completar, passei numa loja que vendia aquelas pedras de cerâmica para assar a pizza no forno e estava em promoção. Com todos os sinais devidamente alinhados, comprei a pedra, queijo, fermento, farinha e meti a mão na massa.

Essa quantidade de ingredientes é suficiente para fazer 2 pizzas enormes, ou três grandes:

- 2 xícaras de água morna
- 2 colheres de sopa de açúcar
- 1 envelope (8g) de fermento ativo seco (dry yeast)
- 2 colheres de chá de sal
- 4 colheres de sopa de azeite de oliva
- 4 xícaras de farinha de trigo

1 - No fundo de uma vasilha bem grande, combine a água morna (não quente, senão ela mata o fermento), o açúcar e o fermento. Espere 10 minutos, se uma espuma se formar na superfície, é sinal que o fermento está funcionando. Adicione o sal e o azeite. Com a ajuda de uma espátula, adicione a farinha xícara a xícara, depois use as mãos para incorporar tudo. Se a massa estiver muito grudenta, vá adicionando mais um pouco de farinha. Trabalhe a massa, dobrando metade sobre ela mesma e pressionando com as mãos, repetindo este processo por uns cinco minutos, até a massa ficar macia e bem uniforme. Forme uma bola com a massa, espalhe um pouco de azeite em volta e coloque numa vasinha limpa. Cubra com um pano úmido e deixe em temperatura ambiente por uma hora.

2 - Uma hora depois, chega aquele momento mágico em que você levanta o pano e vê que sua massa dobrou de tamanho, e exala aquele cheirinho de pão fresco. Dê um soco na massa para retirar o ar e trabalhe mais um pouco com as mãos. Corte a massa na metade, ou em três partes, e forme bolas com cada uma das partes. Cubra as bolas de massa com papel filme e coloque na geladeira por mais uma horinha. Neste momento, se você quiser pode congelar uma das bolas para usar depois.

3 - Separe a superfície onde você vai abrir a massa, espalhe um pouco de farinha na superfície e no rolo. Pegue a bola de massa fria e abra com as mãos primeiro, com o rolo depois, até ficar um círculo (ou o mais próximo que você conseguir de um) bem fino. Se você estiver usando uma pedra de assar pizza, sua pedra deve estar quente neste momento e é importante colocar a massa sobre a pedra antes de colocar os recheios, senão depois será quase impossível equilibrar tudo.

4 - Com a massa sobre a pedra, espalhe o molho de tomate (usei um molho pronto orgânico), queijo mozzarela e os ingredientes que quiser. Eu coloquei queijo feta, tomates e azeitonas kalamata numa parte, peito de peru defumado em outra parte, e alcachofras no resto. Asse em forno alto (450F) por dez a doze minutos, mas é importante ficar de olho para não queimar.


A massa saiu com uma textura, cor e gosto perfeitos. Fiquei realmente impressionada com a pedra, que distribui bem o calor e faz com que a pizza fique crocante em baixo e macia em cima. Uma delícia. Da próxima vez, vou tentar usar farinha integral em metade da receita.

A massa cresceu!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Deu tudo errado

Comprei o exemplar de fevereiro da revista Food & Wine, sem nenhum motivo especial, só para conhecer mesmo. Não gostei das matérias minúsculas, e das receitas apenas duas chamaram minha atenção: um frango cacciatore (frango ao caçador) e uma sopa de berinjelas assadas com lentilha. Semana passada fiz o frango, que ficou até bom, mas o molho deu um aspecto escuro horroroso à carne (nota mental: não acredite em nenhum molho à base de vinho tinto para frango). Sou mais o meu frango à romana.

Ontem fui tentar a sopa, que parecia um pouco trabalhosa, mas deliciosa. Coloquei as lentilhas para cozinhar, mas quando cortei a berinjela ao meio, estava escura dentro. Desanimei, mas botei pra assar assim mesmo. Ela saiu pior do que entrou, e a esta altura as lentilhas estavam queimando, pois a água do cozimento havia evaporado toda. Ah, desisto!! Com raiva do desperdício que havia provocado, decidi voltar para a minha comfort zone e recorri à sopa de lentilha com macarrão que eu sei fazer de olhos fechados. Meu caso com a Food & Wine não começou bem, mas ainda quero fazer essa sopa direito.

Freezing, literally

Só o Gaston mesmo ficou contente ao ver que uma camada de GELO formou-se na nossa janela ontem. Eu também adoro comer gelo, mas tive medo de ficar com a língua grudada na janela :-P

An eater's manifesto

Terminado o Dilema do Onívoro, passei logo para o próximo livro do Michael Pollan, In Defense of Food, para continuar na mesma linha de pensamento. É aqui que Pollan elabora sobre o conselho que deu para as pessoas que, como eu, ficaram se perguntando mas o que então eu devo comer? após ler seu livro: "coma comida. não muito. na maioria plantas". Ainda estou no começo, mas já gostei de lê-lo falar que, em alguns casos, cultura, tradição e bom senso valem mais do que a palavra dos cientistas.

Mirepoix

Mirepoix é o nome francês dado à mistura de cebola, aipo e cenouras cortadinhos, base de muitos caldos, sopas, ensopados e molhos. Também conhecido como a "trindade sagrada" da culinária francesa, pode ser dourado na manteiga, assado, ou cru.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Eu não sou a única

Depois que eu expliquei porque eu não compro vinagrete pronta, o Mark Bittman conta em sua coluna no New York Times que ele também não.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Beleza e destruição

"We butcher, grind, chop, grate, mince and liquefy raw ingredients, breaking down formerly living things so that we might recombine them in new, more cultivated, forms.(...) In 'The Hungry Soul' Leon Kass calls this the great paradox of eating: 'that to preserve their life and form living things necessarily destroy life and form'. If there is any shame in this destruction, only we humans seem to feel it, and then only on occasion. But cooking doesn't only distance us from our destructiveness, turning the pile of blood and guts into a savory salami, it also simbolically redeems it, making good our karma debts: look what good, what beauty, can come of this! Putting a great dish on the table is our way of celebrating the wonders of form we humans can create from this matter - this quantity of sacrificed life - just before the body takes its first destructive bite."

Trecho do Dilema do Onívoro, de Michael Pollan, que me levou às lágrimas e o qual copiei num pedaço de papel e grudei na minha cozinha, como uma espécie de oração.

De fato, como disse a Fer um dia desses, depois de ler este livro sua vida muda um pouco. E todo mundo devia lê-lo, mesmo sabendo que, na prática, quem vai ler é quem já se preocupa com alimentação e quer ter certeza de que está fazendo a coisa certa, num exercício válido, mas meio egoísta, de reafirmação. Mas quem deveria mesmo lê-lo são as outras pessoas, aquelas que raramente param para pensar de onde vem esta comida que estamos colocando na boca ou nos carrinhos de mercado todos os dias. E porque é mesmo que nos preocupamos tão pouco com uma coisa que é tão básica e fundamental?

Pollan não é um guru da alimentação natureba. Ele é jornalista, e tenta manter a imparcialidade e o olho clínico com a melhor das intenções. Para além da crítica da industrialização da agricultura (até mesmo a orgânica) e da cultura fast-food, ele promove uma reflexão filosófica sobre a nossa relação com a comida, com os bichos e plantas que nos sustentam. O capítulo final, sobre a refeição que ele fez só de coisas que plantou, colheu, caçou, catou e cozinhou, é absolutamente lindo.

Bolo mármore

Esse era o meu segundo bolo preferido de quando era criança (o primeiro, adivinhem, era de chocolate puro). Tive que conter o impulso de cortá-lo em quadradinhos e embrulhá-los um a um em papel alumínio, pois era assim que eles eram servidos no refeitório da escola (e eu rezava para ganhar dois quadradinhos).

A receita veio da fonte absolutamente inquestionável em matéria de bolinhos: Dadivosa.

Melhor que caldo?

Apesar de achar engraçadíssimos e um tanto ridículos estes nomes como "better than yogurt" ou "I can't believe it's not butter", resolvi dar uma chance à base para caldo de frango orgânica, e aprovei o resultado. Pelo preço, rende mais e é mais conveniente do que o caldo pronto, com o benefício de não ter aquele gosto de sopa pronta (nem os aditivos) dos cubinhos processados. Na escala de qualidade que vai dos cubinhos ao caldo feito em casa, eu diria que ele ocupa uma respeitável posição intermediária.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

JC's chocolate mousse

Outro dia eu testei uma receita de mousse de chocolate que parecia ser fácil demais para ser verdade. Pois ela deu certo, tão certo que me fez perguntar se teria necessidade daquela mousse tradicional, com os ingredientes e etapas a mais, já que era possível atingir o mesmo resultado de maneira significantemente mais simples. Na mesma hora me veio a imagem de Julia Child dizendo que pular etapas era pura enganação, e o verdadeiro cozinheiro era aquele que fazia as coisas como elas deviam ser feitas. Foi exatamente como aqueles desenhos animados onde o anjo e o demônio ficam um em cada ombro azucrinando a vida da pessoa.

Então decidi tirar a prova dos nove, e peguei a receita original de mousse au chocolat conforme consta na Bíblia (Mastering the Art of French Cooking, by JC herself). Para esta receita, você vai precisar de:

- 4 ovos separados em gemas e claras
- 180g de chocolate meio-amargo
- 125g (1 tablete) de manteiga sem sal
- 4 colheres de sopa de café expresso
- 3/4 de xícara de açúcar, mais uma colher de sopa
- uma pitada de sal

Antes de começar, separe os ingredientes e prepare uma panela com dois dedinhos de água fervente (para o banho-maria) e uma vasilha com água gelada. Separe duas vasilhas resistentes ao fogo para derreter o chocolate e cozinhar as gemas. Prepare também uma batedeira portátil ou um batedor de arame. Vamos lá. Primeiro, na vasilha resistente ao fogo bata as gemas e o açúcar até que a mistura fique grossa e pálida. Leve esta vasilha ao banho-maria e bata mais uns 5 minutos, até a mistura ficar mais grossa e ligeiramente quente. Coloque esta vasilha sobre a vasilha com água gelada e continue batendo, até a mistura esfriar novamente e ficar com a consistência de maionese.

Depois, derreta o chocolate numa outra vasilha em banho-maria com o café. Acrescente a manteiga e mexa até que tudo esteja derretido, formando um creme fino e lustroso. Tire do fogo, mexendo, para que esfrie um pouco, e misture o chocolate à mistura das gemas batidas com açúcar. A mistura ficará densa e ligeiramente aerada, já com aspecto da mousse finalizada. Mas ainda tem uma etapa.

Numa outra vasilha, bata as claras em neve até começar a espumar, coloque uma colher de sopa de açúcar e bata mais até ficarem picos rígidos. Delicadamente incorpore as claras em neve à mistura do chocolate, com cuidado para não desinflar. Coloque a mousse num potão, ou em potinhos individuais, e leve à geladeira por no mínimo duas horas antes de servir. Essa receita serve 6 a 8 pessoas.

Bem, deu para ver que, com essa história de bater as gemas em banho-maria, esta receita é consideravelmente mais trabalhosa que a outra, que só leva mesmo chocolate derretido e claras em neve. Mas vale a pena? Em matéria de textura, as duas mousses ficam bem diferentes. A outra é mais leve, mais aerada, enquanto que essa é bem mais densa, mais concentrada. Em matéria de gosto, ficou difícil comparar. As duas ficaram boas, mas a adição do café na segunda acrescentou uma certa complexidade ao sabor da mousse. Mas nada impede que se acrescente café na receita da primeira e obtenha-se o mesmo resultado final. Visualmente falando, nenhuma diferença - tudo vai depender de como você apresentar a sua mousse (e infelizmente não tive como fotografar a minha).

Resultado: as duas receitas dão resultados ligeiramente diferentes, mas igualmente saborosos. É interessante ter as duas na manga e usá-las conforme a ocasião: se você estiver com pressa (e não ouvir a voz de Julia Child no seu ombro), se jogue na mousse fácil. Se estiver a fim de testar suas técnicas e com tempo de sobra, faça a segunda e explique para os convidados todo o passo-a-passo para eles ficarem beeeem impressionados.

Salmão empacotado


Estou me convencendo de que este é jeito mais perfeito de fazer salmão: no pacotinho, onde ele assa e cozinha ao vapor ao mesmo tempo. E o melhor é que depois não tem assadeira nem frigideira para lavar.

Para esse aí eu cortei um quadrado de papel alumínio para cada filé de salmão. No centro do papel, coloquei uma "cama" de batatas cortadas em fatias finíssimas (para que cozinhem ao mesmo tempo que o salmão), temperei com sal e pimenta, coloquei o salmão por cima, fatias finas de limão siciliano e uma colherada de manteiga "provençal", feita com manteiga, uma pitada de herbes de provence e duas colherinhas de alcaparras. Fechei os pacotinhos bem fechados, e levei ao forno por 20-25 minutos. A manteiga derrete e, junto com a umidade natural do salmão, dá um sabor especial às batatas. As fatias de limão também são essenciais. Servi com arroz branco e as minhas queridas abobrinhas grelhadas. Uma delícia!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A vinagrete infalível

Quando minha sogra esteve aqui, ela comeu muita salada e disse ter ficado impressionada quando percebeu que estava gostando do que comia, e não só porque o médico mandou. Não que eu seja nenhuma mágica na cozinha, mas quem come salada de restaurante a quilo todos os dias, como ela faz, sabe valorizar quando a coisa é um pouco mais, digamos, tolerável. Sim, porque a maioria das saladas de buffet é intragável - aquela alface americana quase branca, aquelas rodelonas de cebola crua que ninguém merece morder (sem falar no bafo que aquilo deve dar), aquelas fatias de tomate verde, e aqueles molhos prontos, quando tem algum molho além da velha gangue azeite-vinagre-sal-pimenta (que são ótimos temperos, não me levem a mal, mas é meio difícil dosá-los adequadamente em plena fila e com uma mão equilibrando o prato). Eca! Isso já é ruim, e com um monte de comidas gostosas e lasanhas borbulhantes e carnes ali do ladinho, não tem santo que aguente.

Uma boa salada depende basicamente de dois fatores: qualidade dos ingredientes (e uma combinação harmoniosa) e um molho decente. Eu já falei umas mil vezes o quanto abomino molhos prontos, quando é tão melhor e mais fácil fazer uma vinagrete bacaninha na hora. E já que está na moda levar-o-seu-próprio-tudo, porque não levar sua própria vinagrete feita em casa para o restaurante a quilo? Dessa maneira, se você não pode controlar a variedade dos ingredientes, pode pelo menos controlar os temperos que vão neles. É bem verdade que você pode receber olhares desaprovadores ao retirar seu potinho de vinagrete da bolsa, mas e daí? Se você já está acostumada a levar seu próprio saco de lona ao mercado, vai tirar essa de letra. Então está lançada a campanha "leve sua própria vinagrete"!

Recentemente eu fiz uma vinagrete de alho assado com vinagre balsâmico que ficou sensacional. Você sabe que tem uma receita campeã nas mãos quando sobra um pouco da batata gratinada com queijo e molho branco, mas os convidados raspam o pratão de salada. O segredo está no uso do alho assado, que fica macio, molenga e doce como uma bala. Aliás, essa transformação do alho cru em assado é uma das mais impressionantes do mundo culinário, daquelas que faz você parar e pensar como esses ingredientes que a gente conhece e usa todo dia também têm seus mistérios.

Você vai precisar de:

- uma cabeça de alho assado
- 1/4 de xícara de vinagre balsâmico
- 3/4 de xícara de azeite de oliva
- 1/4 de xícara de água
- 1 colher de mostarda dijon
- 1 fio de mel
- suco de meio limão
- sal e pimenta do reino à gosto

Para assar o alho, corte a tampa da cabeça inteira, com casca e tudo. Coloque-a no centro de um quadradinho de papel alumínio. Tempere com um pouco de sal, pimenta e azeite. Feche o pacotinho e asse no forno por uns 30-40 minutos, até o alho ficar molenga e caramelizado. Deixe esfriar. Você pode conservar o alho assado na geladeira por um tempão, no pacotinho mesmo ou espremendo o alho num vidrinho. Para fazer a vinagrete, é só misturar tudo no liquidificador, ajustando a quantidade dos ingredientes conforme seu gosto. Prove: se ficar muito denso, coloque mais água; se ficar muito doce, coloque mais suco de limão, e por aí vai. Esta vinagrete combina com praticamente todos os tipos de salada, e vai bem também sobre uma carne de porco assada, frango etc.

Salada invernal de beterrabas

Uma boa maneira de aproveitar as beterrabas abundantes no inverno é nesta saladinha simples e apetitosa: combine beterrabas assadas e cortadas em cubinhos com bolinhas de queijo de cabra (pode ser gorgonzola também), folhas de rúcula (ou alfaces mistas) e nozes tostadas no forno. Tempere com sal, pimenta, azeite e vinagre balsâmico.

Só tome muito cuidado na hora de manusear as beterrabas para não tingir as mãos, os pratos, os talheres, a toalha de mesa, a tábua de cortar, o chão da cozinha, o gato, o marido de vermelho. Ê bichinhas danadas! Não tive a manha de só acrescentar as beterrabas no final (o que deve ser o truque dos mais espertos), nem paciência para limpar tudo e tentar tirar uma foto. Mas imaginem aí que ficou tudo muito bonito e fotogênico, viu?

Comendo sazonalmente

Sinceramente falando, eu nunca tinha me preocupado com essa história de comer sazonalmente até vir morar numa cidade onde as estações existem de fato - ao contrário de Salvador, onde é verão o ano todo, aqui as estações não poderiam ser mais contrastantes. Foi assim que eu percebi que aqueles tomates suculentos e vermelhões estavam misteriosamente faltando no mercado, e que a abobrinha que eu costumava comprar em baldes no verão estava custando mais de um dólar a unidade, e o milho verde estava curiosamente xoxo e sem sabor (também faz falta a feirinha ao ar livre, algo simplesmente impossível no inverno daqui).

Levando isso em conta, eu entendo perfeitamene as preocupações de autores como Michael Pollan (O Dilema do Onívoro) em alertar a população para os benefícios de se comer sazonalmente. Sim, porque para se comer um aspargo no inverno é preciso muitas vezes importá-lo de países onde é verão, uma viagem que não faz nada bem para o vegetal (e que justifica o aumento dos preços). Por outro lado, comer sazonalmente significa que você continua comendo localmente, incentivando a produção local e mantendo uma certa harmonia com o ambiente à sua volta, porque, convenhamos, comer milho na espiga em pleno inverno brutal é meio nonsense.

O problema é que aqui em Montréal o inverno dura quase metade do ano, e há um limite para a quantidade de abóbora que a pessoa pode ingerir. Temos que ser criativos e invental mil e uma maneiras de aproveitar os vegetais de raízes, as batatas, as beterrabas, as cenouras... mas tem horas que eu não aguento e compro aquela manga importada da Costa Rica por CAN$ 1,20 (mas que, coitadinha, não tem o mesmo gosto depois de atravessas países e estações). Pode-se encarar essa história de comer sazonalmente como uma restrição alimentar indesejável, ou como uma oportunidade para se aprender (e apreciar) mais sobre os vegetais que nos chegam à mesa. Eu estou aprendendo, mas não vou mentir e dizer que não vejo a hora da neve ir embora para a feirinha voltar...