domingo, 1 de junho de 2008

Sorvete de baunilha

Por mais que eu me empolgasse com idéias mirabolantes de sorvetes e gelatos usando mil e um ingredientes, quando comprei a sorveteira eu já sabia que o primeiro sorvete a sair dali teria que ser também o mais divinamente simples: sorvete de baunilha. Porque acredito que o sorvete de baunilha talvez seja o mais injustiçado pelos processos de fabricação industriais, que usam tudo menos baunilha de verdade. E porque, como eu nunca havia tido um tête-à-tête com uma fava de baunilha de verdade antes, julguei que essa seria a oportunidade perfeita. E assim foi.

Baunilha, Ludmila. Ludmila, essa é a baunilha.

É engraçado como alguns ingredientes possuem toda uma aura mística em torno deles. Uma cebola eu conheço intimamente, sei que posso pegar de qualquer jeito, descasco e corto de olhos fechados, mas uma fava de baunilha, um punhado de açafrão, um pote de fleur de sel, não, esses são ingredientes... delicados. Por serem raros e na maioria das vezes caros, a gente faz toda uma cerimônia em torno deles, fica sem graça, não sabe direito onde põe as mãos, usa assim quase pedindo licença, sabe?

Mas não precisa ficar intimidado. Todo ingrediente tem um jeito certo de ser tratado, e para quebrar o gelo basta aprender que jeito é esse e coloca-lo em prática. Com a baunilha foi assim: eu fiquei uns bons minutos olhando para aquela vagem escura, grudenta e extremamente aromática. Se eu não tivesse lido de antemão como é que se usa, eu jamais adivinharia por mim mesma. Basta deitar a fava numa tábua, pegar uma faca bem afiada e de ponta fina e fazer uma incisão quase cirúrgica no meio, abrindo a fava em duas. Com a ponta da faca você raspa o interior da fava, coletando as semetinhas grudentas.


Et voilà: essa quantidade ínfima de sementinhas é tudo o que você precisa para fazer um sorvete com sabor de baunilha de verdade. A fava pode ser usada ainda para fazer uma infusão no líquido do sorvete enquanto ele esfria, pois ainda há muito sabor ali. Ou então pode ser colocada dentro de um pote de açúcar para fazer um açúcar aromatizado.


A receita do sorvete foi copiada do David Lebovitz e seguida passo a passo sem grandes dificuldades. A Fabrícia estava me dizendo que algumas sorveteiras se dão melhor com a receita do manual do que com receitas de livros ou inventadas, mas a minha comportou-se brilhantemente na sua primeira rodada, funcionando como estava previsto e no tempo indicado no manual de instruções. Depois de ficar sorvetando na máquina por meia hora, o sorvete foi colocado num pote e levado ao freezer para endurecer mais um pouco. Algumas horas depois ele estava com uma textura perfeita e uma cor linda, com aqueles pontinhos pretos que indicam que a coisa foi feita com baunilha de verdade. O sorvete poderia ter sido devorado assim mesmo, mas eu ainda tinha mais uma idéia mirabolante para servi-lo.


Como estávamos fazendo churrasco, resolvi grelhar uns pêssegos e ameixas comprados na feira. As frutas estavam um pouco maduras demais e desmantelaram-se mais do que eu gostaria no calor da churrasqueira, mas ficaram deliciosas. Sobre as frutas ainda fumegantes e com atraentes marquinhas de grelha, eu coloquei uma bola do sorvete de baunilha e a combinação não poderia ter sido melhor.

Adoro quando um plano dá certo...

9 comentários:

Fer Guimaraes Rosa disse...

Lud, comecou muitissimo bem! :-)
As receitas de sorvete do David Lebovitz sao excelentes.
bjos!

♥ mesa para 4 disse...

Que delicia !!! tb tenho ali a minha sorveteira novinha a estrear... bela inspiração.
Abraço

Unknown disse...

Olá
Conhece a Salicórnia da Salina Eiras Largas da Figueira da Foz, em Portugal?
Uma planta halófita que dá para substituir o sal nalguns pratos, como por exemplo nas Saladas.
À venda na loja do AgriCabaz em Coimbra. Envio pelo correio.
http://agricabaz.blogspot.com/
agricabaz@gmail.com
Obrigada

Anônimo disse...

NAO SEI MAIS O QUE FALTA VC INVENTAR.....ETA MENINA DANADA...
BEIJOS.............ZAIDE

Fabrícia disse...

Lud ficou um luxo....delicioso com certeza. Sabe que agora me interagi com a minha sorveteira e inventei maravilhas.....o que der na telha vira sorvete. Acho que era insegurança .....
Bjs.

Anônimo disse...

Olá Ludmila,

Primeiro, parabéns pelo blog. Delicioso pelas receitas e pela leitura agradável.
Acho que vc nao deve se lembrar de mim. Sou Mariana Monteiro, estudei na Facom. Na verdade, fui colega de Luiz. Estou tendo uma experiência parecida com a sua. Estou morando na Líbia, país no norte África, com o meu marido e aprimorando meus dotes culinários. Estava procurando uma receita de couscous marroquino na internet e vim parar no seu blog. Amei!!! Vou tentar fazer várias receitas, apesar de não ter um terço do seu talento.
Desejo boa sorte a vcs e estarei sempre por aqui aprendendo delícias com vc. um beijo,
Mariana

Camila disse...

Lud,

Arrasou! Que lindo isso de fazer sorvete e que delicada a baunilha!!!!

Ah! E Montréal deve estar com uma temperatura humanamente surpotável, pois tá rolando até sorvete! Ótima notícia pruma (quem sabe?) futura moradora, que acha que vai ficar atolada na neve!

Beijão grandão e eu Luiz também!

Camila.

Natália Eleutério disse...

Passei para ver o teu blog e gostei, parabéns e adorei a receita do sorvete, amo gelados, sorvetes, bjs

Ana Elisa Granziera disse...

Lud, não tem jeito! Acho que todo mundo que REALMENTE gosta de cozinhar sabe a maravilha que é um sorvete de baunilha bem feito, pois sempre começa com ele. Só espero que as pessoas à sua volta sejam mais adeptas a novas experiências que meu marido, pois toda vez que digo que vou fazer sorvete, ouço o mesmo berro: "Faz de baunilha, vai!"
Beijos!