quarta-feira, 11 de julho de 2007

Memória culinária


Quando eu leio sobre lembranças culinárias de outras pessoas, não consigo evitar aquela pontinha de ciúmes e de pensar que, no meu caso, gostar de cozinhar não foi um destes hábitos passados desde a infância, mas sim adquirido com muito trabalho. Minha mãe querida me ensinou muitas coisas nessa vida, mas cozinhar não foi uma delas (e não a culpo por isso, longe de mim). O mais próximo que eu tenho da lembrança de um gosto específico da minha infância, ou de uma experiência partilhada com membros familiares, é a imagem do meu avô comendo pão com queijo prato Regina (nenhum outro). Se eu puxar bem aqui pela memória consigo lembrar das amoras que eu comia direto do pé no fundo do quintal, e que manchavam minhas mãos daquele vermelho-rubi.

Não tenho aquelas lembranças de criança enrolada nas pernas da mãe ou avó enquanto esta batia um bolinho. Não tenho receitas passadas de geração a geração. Parte disso é porque minha família nunca se ligou muito nessas coisas, mas outra grande parte é minha culpa mesmo, claro, porque bem que eles tentavam, mas até pouco tempo atrás eu era a pessoa mais chata do mundo para comer. Confesso. Já fui conhecida como a menina que foi na casa da amiguinha e comeu meia (meia!) laranja, nada mais. Ainda hoje luto para superar certos preconceitos e provar coisas que, há uns dois anos, seriam impensáveis (outros preconceitos eu mantenho mesmo porque eu não sou santa).

Então, me desculpem, mas nada disso de cozinhar vem naturalmente para mim. É, sim, fruto de vontade de aprender, de interesse por adquirir hábitos e alimentos mais saudáveis, mas não deixa de ser um hábito forçado, quando para outras pessoas parece ser tão espontâneo. Ainda não tenho aquela intimidade com a comida que para outros parece vir fácil. Enfim, o importante é que um belo dia eu mudei, como todo mundo muda um dia. Foi, mesmo, de um dia para o outro, mas foi também uma combinação de fatores: a necessidade, morando fora do país e sem a possibilidade de comer na rua todos os dias, o fato de agora eu trabalhar em casa e precisar desgrudar do computador para desencanar de vez em quando, a facilidade de acesso a ingredientes frescos do mundo inteiro, a preocupação em manter o peso e a saúde que só vêm com a idade adulta.

Resumindo: morar em Montreal foi o “click” que eu precisava para despertar a deusa doméstica que morava em mim (risos). Mas que bom que isso é possível, que bom que as pessoas mudam e se desenvolvem com suas experiências de vida. Caso contrário, este mundo seria muito chato. Cozinhar para mim pode não ter muita ligação com o passado, mas tem com o presente e certamente terá com o futuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

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