quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eu comi no Chez Panisse


Não é todo dia que se realiza um sonho, então deixem-me repetir pausadamente: eu. comi. no. chez. panisse. Uia! Eu sei, eu sei, é um restaurante, mas não é qualquer restaurante. Além de já ter sido eleito o melhor restaurante dos Estados Unidos (pela revista Gourmet em 2001), o Chez Panisse é capitaneado pela Alice Waters, diva da culinária californiana e musa do movimento em defesa da agricultura orgânica e auto-sustentável.


Desde que li a biografia-reportagem de Thomas McNamee e comprei um dos livros de receitas da Alice Waters que fiquei interessadíssima pela história deste restaurante e, sobretudo, pela trajetória da Sra. Waters.

Embora o livro de McNamee sofra um pouco de excesso de bajulação, na minha opinião, ele revela histórias fantásticas dos bastidores do restaurante: das bebedeiras incríveis e casos de amores dos chefs que já passaram por ali até o incêndio que quase destruiu o lugar em 1982, passando pelos jantares que entraram para a história e seus convidados famosos (entre os quais o próprio Dalai Lama, minha gente!). O Chez Panisse é, por todas as suas idiossincrasias, uma das histórias de sucesso mais legais que eu conheço. E é claro que eu não poderia perder a oportunidade de ir lá.

Só havia um problema, e um grande problema: como é sabido, o Chez Panisse não possui cardápio. O menu de quatro pratos é único e muda diariamente de acordo com o que está disponível no farmer's market e a inspiração dos chefs. Quem pretende fazer reserva (altamente recomendada, por sinal) deve, portanto, fazê-lo no escuro. Isso coloca um dilema para aqueles que, como eu, têm algumas restrições alimentares. Arriscar ou não arriscar?

Arriscamos. Levando em conta que esta seria uma oportunidade única (mesmo: passamos um dia em Berkeley especificamente para isso), fizemos a reserva com um mês de antecedência, no melhor espírito "seja o que for". Qual não foi meu desapontamento ao entrar no site do restaurante dois dias antes e ver que o menu planejado para o dia da nossa reserva tinha não só um como dois pratos com frutos do mar? Lá se foi a minha empolgação pelos ares, porque eu queria muito ir, mas não estava disposta a pagar quase cem patacas para comer o que eu não gosto (ou encarar uma substituição qualquer).

Felizmente, nosso desespero não durou muito tempo. Tudo que tivemos que fazer foi trocar a reserva do restaurante, que funciona no andar de baixo de uma bela casa, para o café, que fica no andar de cima e oferece um menu mais informal. Claro, não fomos servidos pelos chefs mais badalados do restaurante, mas ficamos igualmente satisfeitos. Dei uma bisbilhotada na parte de baixo e achei até o café mais simpático, com a cozinha aberta exibindo um grill e um forno à lenha (vindo diretamente da Itália graças a um chef que "italianou" o restaurante e inspirou a abertura do café).

Foi surreal entrar num lugar sobre o qual já havia lido muita coisa, e senti quase como se eu já tivesse estado lá antes. Fui reparando nos cartazes dos filmes de Pagnol (o nome do restaurante é uma homenagem à trilogia de filmes Marius, Fanny e César, do cineasta francês Marcel Pagnol, cujos cartazes enfeitam as paredes do restaurante), nos belíssimos e enormes arranjos de flores, no cardápio impresso com as mesmas ilustrações que marcam os livros de receitas, na maneira como tudo é simples (pratos lisos de cerâmica, apresentação minimalista dos pratos), mas ao mesmo tempo impecável.


Fomos atendidos por um garçom já mais velho, o que me fez lembrar mais uma vez do livro e de como Alice costumava empregar todos os seus amigos, experientes ou não, no restaurante. Quis perguntar por ela, mas não tive coragem - o máximo que eu consegui foi avisar que tiraria fotos loucamente. A expectativa com relação à comida, nem preciso dizer, era enorme. E confesso logo: não tive a melhor refeição da minha vida, mas isso não quer dizer que não tenha ficado altamente satisfeita com tudo. Não foi mindblowing, mas foi exatamente o que eu esperava: uma comida simples, reconfortante, com espírito caseiro e sabor de restaurante cinco estrelas.


De entrada Luiz e eu pedimos uma clássica salada césar e uma salada picante de cenouras com purê de grão de bico e pão feito no forno à lenha. Depois fomos de frango assado (todas as carnes servidas no restaurante são de animais criados organicamente, e a fazenda de procedência é citada orgulhosamente no cardápio) com purê de batatas, cogumelos selvagens e brócolis, e filé de porco com batatas fritas, rúcula e repolho cozido até desmanchar na boca. As sobremesas estavam deliciosas: torta de trufa de chocolate com chantilly de pistache e torta de pêras com sorvete de vin santo. Dividimos uma garrafa de zinfandel da casa e ficamos altamente alegres - e não só por causa do vinho ;-)






2 comentários:

Rê Gallo disse...

Ludmila, adorei seu blog, suas fotos e seus posts. Parabéns!
Bjs.

Cleissi disse...

Olá!!! Bem estava pesquisando sobre a chez panisse quando vi o seu post. Sou estudante de arquitetura e estou fazendo a minha monografia, estou fazendo um estudo de caso sobre o chez panisse, mas quase não tem fotos na internet, gostaria de saber se vc teria mais fotos do ambiente interno e fotos do restaurante. gostaria muito de conversar contigo, pois como vc esteve lá poderia esclarecer algumas coisas. meu email é cleissisoares@gmail.com. Att Cleissi