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Acabo de ver um filme belíssimo dirigido pelo Sean Penn chamado Into the Wild (obrigada, Dani, pela dica). É baseado na história real de um jovem norte-americano, Christopher McCandless, que, depois de se formar para agradar aos pais, abandona tudo para ir morar na selva. Ele dá todo o dinheiro que tem para caridade, queima seus documentos, abandona o carro e cai na estrada, numa aventura que o leva cada vez mais para o lado "selvagem" da vida, ou seja, o mais longe possível da civilização.
O filme é maravilhoso e me deu arrepios em alguns momentos. O que justifica falar dele por aqui é justamente a relação do protagonista com a natureza. As cenas mais impressionantes são as que o mostram completamente sozinho, tendo que se virar para comer catando frutas silvestres e caçando pequenos animais. O filme parece ter uma preocupação particular com isso, pois o mostra trabalhando num Burger King para juntar um dinheirinho, e também numa fazenda de (Michael Pollan ia gostar) milho. A cena na qual ele caça um alce e fica sem saber o que fazer depois me emocionou muito, e me fez lembrar do Dilema do Onívoro.
Acho que o que atraiu McCandless para esta aventura, além de seu espírito rebelde, foi o mistério que este estado natural de vida exerce sobre a gente. Tem uma passagem no In Defense of Food que diz que nossa relação com os animais e com a natureza é inteiramente baseada neste mistério, pois são criaturas e coisas que não criamos e as quais não controlamos. O fato deles serem independentes e às vezes contrários ao que a gente chama de civilização - e, ainda assim, dependemos deles para viver - nos intriga de maneira sedutora. É preciso manter em mente esse mistério quando comemos algo que vem da natureza, e acho que o filme transmite isso de maneira belíssima.