A Food Network é um assunto meio tabu entre os blogs de culinária anglófonos, porque (quase) todo mundo assiste, só que (quase) todo mundo mete o pau. É aquele tipo da coisa que todo mundo ama odiar, sabe?
Os mais entendedores criticam o lado didático da emissora, que insiste nas mesmas técnicas e receitas básicas o tempo todo; realmente, deve ser muito bê-a-bá para quem é profissional (ou quase). Outros gostam mesmo é de fuxicar sobre a aparência ou a vida íntima dos chefs-celebridade, o que me parece levar sempre uma pontinha de inveja – quanto mais pessoal e baixaria for a critica, mais inveja. É verdade que os celebrity-chefs jamais terão o mesmo tipo de respeito que os chefs “de verdade” no mundinho gastronômico, mas eu considero que são duas profissões diferentes, e chefs que aparecem na televisão têm que ter um pouco de star-power (se os chefs do FN tem esse carisma todo, aí já é outra questão...).
Alguns poucos, na maioria os que se consideram amadores, confessam que assistem mesmo e gostam de algumas coisas, e não de outras. Eu me encaixo nessa última categoria. Já disse aqui antes que aprendi muita coisa vendo este canal. Sim, tem muita besteira, mas também tem muitas dicas importantes e receitas interessantíssimas. Aliás, para qualquer pessoa que gosta de comida, um canal com programas de culinária 24h no ar a princípio já é legal. Eu prefiro assistir o FN, mesmo que seja um programa meia-boca, do que ver outra besteira qualquer na TV. Mas esta é apenas a minha opinião.
Aqui no Canadá a programação é ligeiramente diferente, pois existem alguns programas locais que não passam nos EUA (e vice-versa). Resolvi comentar o que mais e o que menos gosto do canal, mesmo sabendo que isso pode não interessar a muita gente. Se bem que a maioria dos chefs-celebridades que circulam pela minha tevê são os mesmos que, provavelmente, circulam pela sua também. Então vamos lá.
O pior
Paula’s Home Cooking
Taí um dos poucos programas do FN que faço questão de passar longe. Nem estou falando da voz irritante com aquele sotaque sulista norte-americano, nem das risadas histéricas, nem do cabelo assustador da apresentadora. Estou falando mesmo é das receitas desta senhora que deveria representar a “típica” dona-de-casa americana. Nunca vi uma comida tão gordurosa, tão pouco saudável e tão pouco apetitosa – tudo o que ela faz leva ingredientes bizarros como shortening, queijo processado e que tais. Na minha opinião, este programa promove um desserviço à sociedade e devia ser proibido.
Rachel Ray’s 30-minute meals
Outro programa cujas receitas simplesmente não me apetecem. Em trinta minutos qualquer pessoa é capaz de fazer comida muito melhor do que a dela, que quase sempre consiste em picar um monte de cebolas, abrir uma lata de tomates e jogar um monte de carne numa panela. Não vou nem entrar no mérito da chatice da RR, que virou uma celebridade na televisão americana, apesar de ninguém gostar dela. É muito chato ter que ouvir aquele carisma forçado, a invenção gratuita de palavras (acho que o tal do E.V.O.O. – extra virgin olive oil entrou até para os dicionários!), e a falta total de técnica. Tudo bem que ela não é chef treinada, mas pelo tempo que ela cozinha já devia ter aprendido a manusear melhor uma faca.
O melhor
Jamie at Home
Eu tenho um problema com o Jamie Oliver. Acho ele meio antipático, um tanto megalomaníaco, e super-exposto na mídia. Mas uma coisa eu não posso negar: ele AMA comida, e está fazendo esforços legítimos para passar um pouco desse amor para o resto do mundo. Dos mil e um programas nos quais ele aparece atualmente, o Jamie at Home é de longe o melhor. Do seu quintal ele dá dicas sobre como plantar ervas e vegetais, faz receitas maravilhosas que parecem facílimas, e às vezes até comanda um churrascão improvisado. Tudo bem que algumas receitas parecem improvisadas demais (mão suja de terra nos ingredientes!?!), mas isso dá para abstrair numa boa.
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Eu já gostava do programa e das receitas clássicas de Ina Garten, mas depois que eu soube que ela comandava o departamento de energia nuclear da Casa Branca, e largou tudo para abrir uma loja de produtos de comer, me apaixonei. Ela é carismática sem ser chata, as receitas são clássicos que todo mundo deveria ter no repertório, e aquela casa dela nos Hamptons é muito chique. Meu marido gosta de brincar dizendo que ele é meu Jeffrey, o maridão gente boa que aparece no final, sempre sorridente, para saborear as guloseimas da Contessa, e eu não me incomodo de tê-los como casal ideal para daqui a alguns anos.
Everyday Italian
Quando eu vi a patricinha italiana Giada de Laurentiis na cozinha pela primeira vez, logo pensei que não devia ser lá muito interessante. Mas ela me conquistou aos poucos com receitas simples, saborosas, e um foco sempre especial para as sobremesas (acho que ela ama chocolate tanto quanto eu). Tem coisas no programa dela que eu não gosto, como o lado étnico meio fake (ela é tão italiana quanto os Sopranos), mas nenhuma receita dela jamais me deixou na mão.
Os mais ou menos
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Com Nigella aconteceu o contrário de Giada de Lantentiis: eu tentei, de toda maneira, gostar dela, mas não teve jeito. Admiro muitíssimo o modo como ela descreve os ingredientes, ressaltando a beleza e a sensualidade das cores, formas e aromas, mas detesto as receitas. Muito raramente tenho vontade de fazer algo que ela faz, e quando tentei confesso que me decepcionei com o resultado. Nigella é vista como defensora da comida verdadeira por não ser magérrima e comer de tudo, mas eu já a ouvi dizendo que sua filosofia é “se tem gosto bom, eu como”. E eu definitivamente não concordo com isso.
Chef at Home
Este é um dos programas canadenses que provavelmente não são exibidos nos EUA. O apresentador, Michael Smith, já foi chef profissional dos melhores e, hoje em dia, cozinha “de casa” para a família, mostrando como todo cozinheiro amador pode incrementar a janta do dia-a-dia com algumas técnicas básicas. Adoro a premissa do programa, e gosto ainda mais de reconhecer as marcas dos ingredientes na telinha, mas falta algo para este programa ser realmente bom. Michael Smith pode ser um excelente cozinheiro, mas suas habilidades em frente à câmera são limitadíssimas, o que me deixa um pouco constrangida.
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